sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Medir em vez de discutir

Sempre tive ar condicionado em casa, mas ultimamente tenho-me sentido ainda mais encalorado do que é costume, levando-me a duvidar do aparelho.

Mas afinal o aparelho estava bom e eu é que estava avariado. Decidi comprar termômetros aqui para casa, para ver até que ponto é que o meu termóstato interior estava desafinado.

Há muita gente que não sabe que a temperatura ideal para o conforto masculino (20 ou 21 graus) é diferente daquela que determina o conforto feminino, que é 24 ou 25 graus.


Destes graus de diferença — que são uma média planetária — nascem diariamente biliões de discussões, sempre em torno da questão de estar frio ou estar calor.

São estas as temperaturas que permitem ao ser humano não pensar na temperatura e poder pensar, sei lá, noutras coisas. Para mais, durante o ano inteiro, seja qual for o tempo que está lá fora.

Mal espalhei os termômetros pela casa, senti-me logo desmentido. Bem que tentei imaginar que estivessem todos feitos uns com os outros, para me enganar, convencendo-me de que não estava o calor que eu sentia.

Mas contra seis termômetros — com uma margem de erro máxima de 1 grau — é impossível marrar.

De um dia para outro, deixei de usar o ar condicionado. Deixei de ter calor. Foram os números dos termômetros que me acalmaram. Desafiaram-me a continuar a ser histérico. E eu desisti imediatamente.

O ser humano precisa de números. Precisa de medir. Ir contra os números é ir contra a natureza humana. Por muito que gostemos de discutir se está frio ou calor, ou se vamos depressa ou devagar, ou se ganhamos muito ou pouco, ou se somos altos ou baixos, gordos ou magros, novos ou velhos, há um limite para essas tagarelices: são os números.

Os números constituem o limite da tagarelice.

A matemática pode ser difícil para a grande maioria das pessoas, mas para uma minoria considerável (que se pode medir e avaliar) é um prazer essencial.

Os números não são mágicos: nós é que somos ilusionistas.

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