Por trás dos debates semânticos sobre o que é a extrema direita e das nuances perdidas na tradução das adjetivações ultra, extrema e radical, está a tentativa de normalizar o extremista. Na forma como foi transplantado ao Brasil, o debate é menos sobre as graduações do extremismo de Le Pen e cia. na França e mais sobre como ficar em paz com a possibilidade de que a única via capaz de barrar forças progressistas seja, a curto prazo, versões higienizadas do neofascismo.
Conceitos não são realidades objetivas; partem de uma posição política. Conceitos são relacionais: faz sentido falar em extrema direita em relação ao espectro francês e ao europeu. Na França, o Conselho de Estado rejeitou, em março deste ano, questionamento do partido de Le Pen após ser enquadrado como extrema direita. No Parlamento Europeu, o partido de Marine Le Pen lidera a nova coalizão de direita no extremo do espectro político europeu, ao lado de Orbán.
Conceitos são históricos. Não é porque Le Pen desinfetou o discurso, distanciando-se de antigos parceiros neonazistas, que o seu programa político-partidário não esteja ainda fincado na ideia de nação em bases étnico-raciais. Não é porque Le Pen suavizou o antissemitismo por razões estratégicas que o seu racismo anti-imigrante e antinegro não seja igualmente definidor de seu extremismo. A diferença está nas costas de quem as botas do extremismo vão pisar e quem vai lambê-las.
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