[Antes de mais, um aviso à navegação: estou a generalizar! E, como em todas as generalizações, haverá quem não cabe nesta incompetência que aponto aqui. Mas é isso que é uma generalização. Portanto, sigamos]
Em França, o partido União Nacional (RN), de Marinne Le Pen, já canta vitória na primeira volta das eleições – à hora que lhe escrevo, as projeções dão conta de que o RB garantiu 34% dos votos, com a coligação de esquerda, a Nova Frente Popular (NFP), a garantir 28,1% e o Movimento de apoio a Macron a ficar-se pelos 20,3%. É uma vitória clara dos movimentos de extrema-direita.
Isto no mesmo fim-de-semana em que Vikton Orban anunciou a criação de um novo grupo de direita radical no Parlamento Europeu, chamado Patriotas pela Europa. Atualmente, os líderes da Hungria, Chéquia e Áustria estão juntos nesta ideia – são precisos mais quatro partidos para que a ideia se concretize.
Em Portugal, André Ventura apelou à mobilização de todas as forças de segurança para que, na próxima quarta-feira, dia 3 de julho, compareçam no parlamento para apoiar o seu partido, que vai apresentar um conjunto de projetos relacionados com o subsídio de risco.
No Brasil, atualmente sob a presidência de Lula de Silva, discute-se a criminalização do aborto com uma proposta absolutamente abjeta. Nos EUA, e depois de um debate que até fez o New York Times pedir a Joe Biden que se retire da corrida, um regresso de Donald Trump à Casa Branca pode provocar um retrocesso inimaginável.
E desenganemo-nos se achamos que tudo o que está a acontecer é responsabilidade dos líderes de extrema-direita: na verdade, grande parte do crescimento destes movimentos que são genericamente vazios de soluções, mas ótimos na capacidade de insuflar o descontentamento da população, acontece pura e simplesmente porque os governantes têm sido incompetentes.
Eu sei que parece senso comum, mas não custa recordar que é suposto os governantes terem a seu cargo a ‘res publica’, a coisa pública – ou seja, o bem comum. Não me parece difícil de entender. Não têm a seu cargo a manutenção do poderzinho ou das tricas políticas, não têm a seu cargo a promoção da sua carreira individual, nem sequer têm a seu cargo a necessidade de informar a população sobre o que estão a fazer por ela. Aos Governantes é pedido – pasme-se! – que governem. Que cuidem do seu povo, tendo sempre em conta o seu bem.
Ora, como se tem tornado óbvio, também, nos últimos anos há demasiados erros a apontar aos governantes que nos lideram um pouco por todo o mundo. Se olharmos apenas para Portugal, é fácil identificar os problemas e escusamos de estar sempre a repetir o que está menos bem – praticamente tudo, menos a vida de alguns estrangeiros endinheirados que vêm aproveitar o que de melhor o País tem.
E nem sequer falamos de pessoas que apostem particularmente no investimento em território nacional. Aliás, dados recentes publicados no Visual Capitalist mostram como os milionários estão a emigrar para países onde vivem mais confortavelmente, mas nos quais continuam a não investir porque…não são vantajosos nesse quesito.
Num cenário destes, em que a vida das pessoas está genericamente pior e mais difícil, é muito natural que discursos fáceis, vazios e repetitivos se tornem apelativos. Porque dão voz ao descontentamento. E com a ajuda das redes sociais, então, é um mimo.
Mas a culpa não é de quem grita o descontentamento – esses, tal como os outros, querem poder, protagonismo e apresentam tantas soluções quanto o meu peixinho ali no aquário. A culpa é de quem esquece, diariamente, de trabalhar para aqueles que tem a seu cargo: os eleitores. A responsabilidade é de quem ocupa gabinetes ministeriais e não trabalha em prol do bem comum. Como dizia recentemente Marques Mendes, durante uma intervenção no ‘Clube dos Moderados’, da revista EXAME, “em grande medida, o sucesso do populismo em Portugal está dependente da governação: se for boa, eficaz e resolver problemas concretos das pessoas, o populismo leva uma machadada. Se as expectativas que estão criadas não se concretizarem, o populismo volta a subir”. Parece óbvio, não é?
E salientava ainda outra coisa – que se adequa muito a propósito dos resultados de hoje, em França: “Na Europa, o populismo alimenta-se muito de imigração mesmo nos países em que não há imigrantes”, ou onde estes estão perfeitamente integrados.
“O que significa que está tudo nas mãos do Governo! Importa que a governação seja eficaz”, dizia o jurista e comentador político.
Se um funcionário de uma empresa nossa falhar nos objetivos que estão definidos para a sua função, é despedido. Quando os Governos falham naquilo que são as expectativas sobre as quais foram eleitas, também podem ser despedidos: o problema é que o que cresce no lugar de quem parte são ervas daninhas. Que fazem muito espalhafato e ocupam muito espaço, mas resolvem absolutamente nada e sufocam tudo o que está à sua volta.
É bom que não esqueçamos disso.
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