O Brazil não conhece o Brasil. O Brasil nunca foi ao Brazil. (Assim, com Z mesmo, ironia do autor, traduzida em deboche gingado na voz de Ellis Regina). A cantora gaúcha, que foi embora cedo, era a mais perfeita interprete da poesia de Aldir.
A música é de 1878. Lembrava que o Brazil com Z não conhece o Brasil com S. O lado rico desconhece – ou ignora – o lado pobre. Simples assim. Não mudou quase nada.
O Brazil não merece o Brasil. O Brazil tá matando o Brasil.
Quarenta e dois anos depois, Aldir foi um dos mais de sete mil brasileiros mortos pelo covid 19 – 16 por hora. Na luta contra a pandemia, o Brasil – do S e do Z – encara um presidente desembestado que, dia sim dia não, sem máscara, ameaça com a volta da ditadura que, em 1978, vigorava, mas prometia ir embora.
Na rua, desembestados partidários do desembestado-em-chefe tocam o terror, surrando opositores, jornalistas, urrando ameaças. Sem constrangimento, sem contenção. Sem voz forte a dizer: Não. Passou da conta!
A pandemia e a violência política assombram o Brasil – do S e do Z.
Como se ainda fosse 1978, as Forças Armadas são seguidamente convocadas e seguidamente se manifestam – sem clareza, dizem pouco, negam menos ainda.
No auge da pandemia, o soturno médico ministro, publicamente, derrapa para vestir a máscara de proteção obrigatória contra o vírus sorrateiro e mortal. É o soturno quem comanda (?) a guerra brasileira contra a doença. Ainda sem remédio, nem vacina de salvação.
Aldir, o poeta das 500 músicas, não deu conta de respirar tantas tragédias somadas.
O ar pesado também tirou de cena o ator Flávio Migliacio. Desistiu de respirar. “Me desculpem, mas não deu mais. A humanidade não deu certo. Eu tive a impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este”.
“Cuidem das crianças”, pediu Migliacio, sem fazer comédia da morte.
“Do Brasil, SOS ao Brasil”. Valia em 78. Vale hoje.
Tânia Fusco
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