sábado, 12 de outubro de 2019

Se não mudar enfoque diplomático e ambiental, Brasil não consegue entrar na OCDE

Em matéria de diplomacia, o governo Jair Bolsonaro começou pessimamente. Ao invés de manter a neutralidade que sempre caracterizou o trabalho do Itamaraty, o novo presidente se atirou nos braços do matriz USA, assumiu-se como filial Brazil e se afastou do maior parceiro comercial do país, a China. Agora, por exemplo, há uma oportunidade de ouro para os produtores de carne suína, altamente consumida pelos chineses. A criação local foi dizimada por uma peste, as importações estão abertas e a hora é essa, mas ninguém sabe o que o governo está fazendo a respeito.

O pior é a questão ambiental. No início do governo, o Brasil anunciou que iria deixar o importantíssimo Acordo de Paris e as infelizes declarações climáticas do chanceler Ernesto Araújo criaram um furacão diplomático internacional contra o Brasil.

O que o Brasil ganhou com essa mudança de rota? Nada, absolutamente nada. E as consequências são tenebrosas, porque até mesmo o antes amigável governo da matriz USA resolveu colocar a filial Brazil na berlinda, porque o governo Bolsonaro literalmente conseguiu entrou em choque com a opinião pública mundial.


A gota d’água foram as queimadas na Amazônia, que o Brasil não soube explicar, por falta de conhecimento específico das autoridades. E as consequências estão à vista de todos, com o posicionamento da matriz sobre a entrada da filial na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O Brasil teve de recuar no caso do Acordo de Paris e precisa seguir recuando, mas os pronunciamentos do chanceler sobre mudanças climáticas continuam revoltando a opinião pública mundial, porque ele resolveu ignorar os relatórios da ONU, classificando-os de “ideologia da mudança climática ou climatismo”

Enquanto isso, o mundo inteiro caminha em outra direção. O secretário-geral da ON, António Guterres, que é português, diz que “há cada vez mais conservadores que entendem que a ação climática é parte da política”, e defende pressão social para conter a crise climática: “Cedo ou tarde, os Governos seguem a opinião pública, em todo o mundo”.

A ONU deixa bem claro quais são essas necessidades. Entre outras metas, propõe a redução de 45% das emissões de dióxido de carbono até 2030 e, para 20 anos depois, em 2050, a neutralidade do carbono, ou seja, que a quantidade de emissões não supere a capacidade de absorção das florestas, por exemplo. Assim, o impacto será zero, neutro. “Tragam planos, não discursos”, pede Guterres aos líderes nas cúpulas do clima.

O secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría (mexicano) reforça, dizendo: “Temos que assegurar o cumprimento dos compromissos assumidos nos Acordos de Paris. A necessidade da ação climática não deveria exigir grandes reflexões”.

Sobre a entrada do Brasil na OCDE, na manhã desta quinta-feira o secretário-geral adjunto Ludger Schuknecht (alemão) deu um recado direto ao presidente Bolsonaro e ao chanceler Araújo, durante o Fórum de Investimentos Brasil 2019.

Após ouvir o chanceler dizer que o Brasil já está pronto “para começar nosso processo de adesão à OCDE, isso reforçará toda essa dinâmica e toda essa agenda que nós temos”, o secretário-adjunto da OCDE fez um discurso franco, ouvido por Bolsonaro e pelo ministro, dizendo que o Brasil precisa de reformas econômicas sem abandonar a responsabilidade ambiental e social.

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