sábado, 12 de outubro de 2019

Bolsonaro briga com Deus e o mundo

Só faltava o presidente brigar com Deus – na pessoa de Irmã Dulce, a nova e primeira santa brasileira. Por pressão evangélica (?!), Bolsonaro não irá à cerimônia de canonização em Roma no domingo. Tampouco irá a Salvador para uma missa em homenagem a ela. Na capital baiana nasceu a freira, que se tornará agora a Santa Dulce dos Pobres por uma vida dedicada aos necessitados.


O presidente, que em breve criará o PES – Partido do Eu Sozinho –, deve mandar o general Hamilton Mourão para acompanhar, em seu lugar, a cerimônia no Vaticano, presidida pelo papa Francisco. O porta-voz da presidência da República, Otávio Rêgo Barros, foi solenemente ignorado nessa mudança de planos. Ele tinha dito que a presença de Bolsonaro em Roma reforçaria “a importância de o Brasil ser um Estado laico”. Ilusão. Não existe porta-voz que resista a Bolsonaro e seus caprichos.

Irmã Dulce, batizada Maria Rita Lopes de Souza Brito, era conhecida como “o anjo bom da Bahia”. Pensando bem, acho ótimo que Bolsonaro não vá a Roma. O papa não merece ser obrigado a recepcionar o presidente brasileiro. Suas piadas grosseiras e de baixo calão não cairiam bem no Vaticano, por mais coloquial que seja Francisco. Nada ali, nem o papa nem a Irmã Dulce nem seu objetivo de vida, tem a ver com o que Bolsonaro simboliza ou pensa.

Cada vez mais o presidente se mostra como é: intolerante, censor, brigão, obcecado por controle, assediador, autoritário. Espalha dissensão e sai dividindo tanto que um dia o resultado será zero. Amigos se tornam desafetos. Aliados se tornam adversários. Tudo por obra de uma personalidade desagradável, histriônica, que se compraz em humilhar e provocar.

Começo a ficar com pena de Huguinho, Zezinho e Luizinho. Ops, Flávio, Carlos e Eduardo. Esse último, coitado, estudou até altas horas da noite para ser sabatinado pelo Senado e não responder só sobre hambúrguer e turismo. “Tenho revisto episódios sobre a história do Brasil, como o que trata da nossa independência passando por Leopoldina, Bonifácio e Princesa Isabel”, escreveu em rede social. Isso aí, Eduardo. Prossegue. Parece, porém, que a embaixada em Washington não passou de história da carochinha, porque ninguém mais fala nisso.

Fico com pena dos três herdeiros, porque podem ter sofrido lavagem cerebral na infância e adolescência. São meros repetidores do pai. Tão brigões quanto. Agressivos. Arrogantes. Ostentam armas. Ofendem. Ameaçam. E por isso os irmãos têm levado pauladas a torto e a direito. O Major Olímpio, líder do PSL no Senado, afirmou que, se Eduardo e Flávio deixarem o PSL, será “um favor que fazem”, e fez um pedido a Carlos: “Não encher o saco”.

Agora, até os Estados Unidos de Donald Trump puxaram o tapete de Bolsonaro, adiando o acesso do Brasil à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Só quem entrará agora será, quem diria, a Argentina. E a Romênia. A amizade de Eduardo e Trump, cultivada pelo servilismo sorridente de Bolsonaro e pelas promessas de abrir a Amazônia a investidores americanos, não rendeu os frutos esperados. O Brasil vai ter que esperar quietinho sua vez.

Antes, só podia reclamar de Bolsonaro quem fosse mulher, negro, gay, ativista de direitos humanos, pacifista, índio, ambientalista, artista, professor universitário, cineasta, escritor, cientista, pobre, ateu. E claro, os 13 milhões de desempregados. Para o resto, estava tudo bem. Agora, o presidente resolveu não mais escolher inimigos pela orientação sexual ou viés ideológico. Todo mundo cai em desgraça com ele, até as santas. Só admite por perto os aduladores. E desconfia da própria sombra. Morô?

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