O presidente foi explícito: "Além das Forças Armadas, defendo o armamento individual para o nosso povo para que tentações não passem pela cabeça de governantes para assumir o poder da forma absoluta". Mas o presidente não defendeu durante toda a campanha a possibilidade de que cidadãos comuns pudessem estar armados para se defender da violência no país? Que salto de malabarismo é esse de dizer que é bom que os brasileiros estejam armados, como o Exército, como um antídoto e barreira contra um possível golpe de Estado dos "governantes"? Será que ele se esqueceu que é ele quem governa a nação com os outros poderes do Estado? Será que está insinuando que o Congresso ou o Supremo Tribunal Federal poderiam preparar um golpe de Estado contra ele?
Sem dúvida, Bolsonaro está decepcionado e mal-humorado pela derrota sofrida no Senado, por uma grande maioria, com a rejeição de seu decreto em favor de armar os cidadãos. E agora deve estar preocupado que o Congresso Nacional também possa derrubar esse polêmico decreto que, segundo o IBOPE, é rejeitado por 70% dos cidadãos.
São muito graves as palavras do presidente, que deseja agora que os cidadãos estejam armados para poder evitar a tentação de um golpe por parte de governantes e não do Exército, embora ele continue defendendo e justificando a ditadura brasileira. É grave porque Bolsonaro insinua a possibilidade de uma guerra civil no caso de algum dos poderes do Estado cair na tentação de dar um golpe. Golpe contra quem? Contra ele, naturalmente.
Ele parece ignorar, o presidente obcecado pelas armas, os golpes e guerras, que hoje conta com apenas 30% de consenso no país. No caso insano de que algum dos poderes, fora do Exército, tentasse um golpe de Estado, o presidente imagina que o Brasil inteiro, já armado por ele, sairia às ruas para defendê-lo sem dar lugar a uma guerra entre irmãos? Por que esse medo se, além do mais, conta com o Exército, do qual 103 de seus integrantes constituem a metade dentro do Governo?
Para aqueles que, como eu, sofreram na carne durante a infância a Guerra Civil Espanhola entre irmãos, com mais de um milhão de mortos, à qual se seguiu não uma democracia, mas uma dura ditadura de mais de 40 anos que deixou a nação dividida até hoje, causaram arrepios essas piadas do religioso presidente brasileiro, que mal começou a governar e já está insinuando fantasmas conspiratórios e querendo armar a população para o caso de um hipotético golpe contra ele.
Tomara que os congressistas evangélicos do Congresso sigam os senadores e ajudem a derrotar esse fantasma de armar os cidadãos já pensando até em uma guerra. Seria a melhor maneira de demonstrar que eles estão realmente do lado de Jesus, que quando estava para ser preso para que fosse julgado, impediu um de seus apóstolos de usar a espada para defendê-lo. "Aquele quem com ferro mata com ferro morre", disse-lhe Jesus.
Esse mesmo Jesus que cerca de um milhão de evangélicos honraram durante a Marcha de São Paulo. Quando perguntei a Gustavo, um amigo meu, diretor de uma escola de música, quantos tinham comparecido à Marcha de Jesus, em São Paulo, respondeu irônico: "Todos menos Ele". Certamente, Jesus, que disse "bem-aventurados os pacíficos", nunca estaria ao lado daqueles que pronunciam apenas palavras sombrias como armas, guerras, ódios, medos, golpes. Será que já não servem à humanidade as palavras de luz, que criam paz, harmonia, diálogo entre diferentes e ainda são capazes de trocar as armas por campos de trigo e felicidade?
Juan Arias
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