quinta-feira, 9 de maio de 2019

Prefeito de NY bota capitão pra correr

Imagine um presidente reacionário, fã de torturadores, homofóbico, racista e machista. Imaginou? Pois bem, agora imagine uma primeira dama negra, bissexual, mãe de dois filhos, poetisa e engajada nas causas das minorias e dos direitos humanos. Imaginou? Pois bem, foi esse encontro que o prefeito de Nova Iorque quis evitar ao recusar o convite para o jantar que iria homenagear o capitão Bolsonaro na sua cidade.

Bill de Blasio, o prefeito, preferiu desestimular a visita do capitão a NY a ter que apresentar Chirlane McCraysua, sua mulher, negra, ao capitão no jantar. Antes da preparação da viagem, Bolsonaro suspendeu uma publicidade do Banco do Brasil porque não lhe agradava os jovens negros, os trans e os descolados que apareciam descontraídos no anúncio.

Certamente se fosse brasileira, Chirlane também estaria espantada com a decisão do seu presidente de suspender a propaganda, pois a peça contrariava as suas ideias e, segundo ele, feria os bons costumes.

Atitudes como essas – autoritárias e preconceituosa – é que certamente levaram centenas de intelectuais, políticos e defensores dos direitos humanos de Nova Iorque, liderados pelo senador democrata Brad Hoylman, a se movimentarem nos EUA para impedir a presença do capitão na cidade mais cosmopolita e descolada do mundo, que defende e respeita os direitos individuais independente de cor, raça e credo como nenhuma outra no mundo.

No Twitter, o senador comemorou:

“Vitória. Nós enfrentamos o presidente homofóbico do Brasil Jair Bolsonaro e vencemos”.

Ser recebido por Trump, não deu ao capitão salvo conduto para outros estados norte-americanos. E os brasileiros assistem, sobressaltados, uma cena que jamais imaginariam: um presidente brasileiro desistir de receber uma homenagem com medo de ser hostilizado pelo povo de uma cidade, cujo prefeito o declarou persona non grata.

Ao saber que Bolsonaro seria homenageado pela Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos, apoiado por bancos como Itaú, Santander, HSBC e o próprio Banco do Brasil, o prefeito de NY acendeu o sinal de alerta, certamente orientado por sua mulher. Ao chamar Bolsonaro de “perigoso” para futuras gerações, ele, como chefe do município, desestimulou outros apoios. Assim, a direção do Museu de História Natural desistiu de ceder suas instalações para o convescote que custaria 30 mil dólares por pessoa.

Ao saber da rebeldia de Blasio e da má vontade em recebê-lo, o capitão bradou:

“Receberei a homenagem até na praia”.

A valentia durou pouco. Aconselhado por auxiliares mais ponderados, Bolsonaro preferiu acautelar-se a realizar uma viagem que só traria dissabores. Os arroubos de Bolsonaro mereceram outros comentários humilhante do prefeito:

“Jair Bolsonaro aprendeu da maneira mais difícil que os nova-iorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós chamamos atenção para sua intolerância. Ele fugiu. Nenhuma surpresa —valentões não aguentam um soco. Já vai tarde, Jair Bolsonaro. Seu ódio não é bem-vindo aqui”.

Ao cancelar o evento o capitão evita assim um confronto entre as suas posições retrógradas e o que o mundo pensa sobre as garantias individuais, o livre pensamento, a liberdade de expressão, de imprensa, LGBT e direitos humanos. Bolsonaro sai de cena e o nova-iorquino celebra a liberdade contra o preconceito.

Blasio não usa a cor da sua mulher como objeto de propaganda. Não precisa dela como “papagaio de pirata” em solenidades públicas para disfarçar o racismo. Casou-se com McCraysua, com quem tem dois filhos, e hoje administra uma das cidades mais importantes do planeta, dividindo com ela as tarefas que colocam NY hoje como a mais plural de todas as metrópoles.

O capitão fez bem em não desembarcar em Nora Iorque. Não iria gostar do que o senador Brad Hoylman e o ativista James Green, brasilianista, escritor, um professor universitário, preparavam para recepcioná-lo. Fica a lição de que a sociedade reage às truculências ideológicas e não querem se contaminar com ideias reacionárias. E recrimina governantes fascistas e autoritários.

O capitão, agora, corre o risco de ficar isolado do mundo, pois governantes de outros países terão receio de chamá-lo para qualquer evento depois da rebeldia em Nova Iorque. Aliás, até a própria direita não simpatiza muito com as suas ideias, como observou o presidente do Chile Sebastián Piñera ao recebê-lo no seu país: “São declarações tremendamente infelizes. Não compartilho muito com que Bolsonaro diz sobre o tema (o apoio do Bolsonaro às ditaduras da América Latina) “.

Na verdade, ser de direita, conservador, é uma opção política que deve ser respeitada quando se vive numa democracia. Não necessariamente, um governo de direita precisa defender a tortura, estimular a violência, ser homofóbico e racista. Este, tem outro nome: nazifascista.

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