Certamente se fosse brasileira, Chirlane também estaria espantada com a decisão do seu presidente de suspender a propaganda, pois a peça contrariava as suas ideias e, segundo ele, feria os bons costumes.
Atitudes como essas – autoritárias e preconceituosa – é que certamente levaram centenas de intelectuais, políticos e defensores dos direitos humanos de Nova Iorque, liderados pelo senador democrata Brad Hoylman, a se movimentarem nos EUA para impedir a presença do capitão na cidade mais cosmopolita e descolada do mundo, que defende e respeita os direitos individuais independente de cor, raça e credo como nenhuma outra no mundo.
No Twitter, o senador comemorou:
“Vitória. Nós enfrentamos o presidente homofóbico do Brasil Jair Bolsonaro e vencemos”.
Ser recebido por Trump, não deu ao capitão salvo conduto para outros estados norte-americanos. E os brasileiros assistem, sobressaltados, uma cena que jamais imaginariam: um presidente brasileiro desistir de receber uma homenagem com medo de ser hostilizado pelo povo de uma cidade, cujo prefeito o declarou persona non grata.
Ao saber que Bolsonaro seria homenageado pela Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos, apoiado por bancos como Itaú, Santander, HSBC e o próprio Banco do Brasil, o prefeito de NY acendeu o sinal de alerta, certamente orientado por sua mulher. Ao chamar Bolsonaro de “perigoso” para futuras gerações, ele, como chefe do município, desestimulou outros apoios. Assim, a direção do Museu de História Natural desistiu de ceder suas instalações para o convescote que custaria 30 mil dólares por pessoa.
Ao saber da rebeldia de Blasio e da má vontade em recebê-lo, o capitão bradou:
“Receberei a homenagem até na praia”.
A valentia durou pouco. Aconselhado por auxiliares mais ponderados, Bolsonaro preferiu acautelar-se a realizar uma viagem que só traria dissabores. Os arroubos de Bolsonaro mereceram outros comentários humilhante do prefeito:
“Jair Bolsonaro aprendeu da maneira mais difícil que os nova-iorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós chamamos atenção para sua intolerância. Ele fugiu. Nenhuma surpresa —valentões não aguentam um soco. Já vai tarde, Jair Bolsonaro. Seu ódio não é bem-vindo aqui”.
Ao cancelar o evento o capitão evita assim um confronto entre as suas posições retrógradas e o que o mundo pensa sobre as garantias individuais, o livre pensamento, a liberdade de expressão, de imprensa, LGBT e direitos humanos. Bolsonaro sai de cena e o nova-iorquino celebra a liberdade contra o preconceito.
Blasio não usa a cor da sua mulher como objeto de propaganda. Não precisa dela como “papagaio de pirata” em solenidades públicas para disfarçar o racismo. Casou-se com McCraysua, com quem tem dois filhos, e hoje administra uma das cidades mais importantes do planeta, dividindo com ela as tarefas que colocam NY hoje como a mais plural de todas as metrópoles.
O capitão fez bem em não desembarcar em Nora Iorque. Não iria gostar do que o senador Brad Hoylman e o ativista James Green, brasilianista, escritor, um professor universitário, preparavam para recepcioná-lo. Fica a lição de que a sociedade reage às truculências ideológicas e não querem se contaminar com ideias reacionárias. E recrimina governantes fascistas e autoritários.
O capitão, agora, corre o risco de ficar isolado do mundo, pois governantes de outros países terão receio de chamá-lo para qualquer evento depois da rebeldia em Nova Iorque. Aliás, até a própria direita não simpatiza muito com as suas ideias, como observou o presidente do Chile Sebastián Piñera ao recebê-lo no seu país: “São declarações tremendamente infelizes. Não compartilho muito com que Bolsonaro diz sobre o tema (o apoio do Bolsonaro às ditaduras da América Latina) “.
Na verdade, ser de direita, conservador, é uma opção política que deve ser respeitada quando se vive numa democracia. Não necessariamente, um governo de direita precisa defender a tortura, estimular a violência, ser homofóbico e racista. Este, tem outro nome: nazifascista.
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