O momento é grave. O governo é pior do que se imaginava. É um desastre anunciado. Parece o Titanic rumo ao iceberg. Todo o Brasil está a bordo – os ricos dançando no salão, os pobres presos nos andares inferiores. E o capitão não está olhando para o mar, mas fazendo piadas sobre o tamanho do pênis dos asiáticos. Bem que poderia ser uma paródia.
Cada dia fica mais evidente que Bolsonaro nunca soube por que queria comandar o país. No seu primeiro discurso dirigido ao povo, disse que queria acabar com a esquerda. Mas isso não é um programa de governo, e sim uma obsessão pessoal. Agora, Bolsonaro está se vingando contra tudo e contra todos que ele acredita serem de esquerda: os povos indígenas, a floresta, o agente do Ibama que o multou, o horário de verão e os radares de limite de velocidade. Em primeiro lugar, porém, está: a educação. Parece que o presidente se sente ameaçado por pessoas cultas e letradas. Daí o ataque neomedieval às universidades. Não é coincidência que Bolsonaro tenha nomeado como ministro Abraham Weintraub, um homem que confunde kafta com Kafka.
A estupidez, já disse alguém inteligente, não reconhece competência, experiência, conhecimento, história ou mesmo a verdade. Ela cria seu próprio mundo autorreferencial. Ela é como o motorista que está trafegando na contramão e repreende os "idiotas" que estão vindo em sua direção. Ou como o astrólogo que se considera um filósofo. O colunista Reinaldo Azevedo escreveu recentemente sobre o governo Bolsonaro: "A mistura de ignorância com poder é sempre perigosa porque torna as pessoas arrogantes e destrutivas".
Embora atualmente não pareça, tenho certeza de que a maioria dos brasileiros gosta mais de ideias construtivas do que bocas cínicas; prefere a proteção do meio ambiente à destruição ambiental, a educação à ignorância, a modéstia à prepotência. Prefere também tratar o próximo com solidariedade em vez de hostilidade. Seria o momento para a esquerda fazer uma oferta nova e progressista; o momento de buscar uma nova linguagem que vá mais além de #lulalivre.
Os protestos estudantis recentes mostraram que uma boa parte da população está acordando. Rejeita a campanha patológica de vingança e destruição adotada por Bolsonaro. Há uma necessidade de algo novo.
Os últimos grandes protestos de jovens brasileiros ocorreram em 2013. Eles não estavam vinculados a nenhum partido ou sindicato. Naquela época, as manifestações foram alvo de ataques da polícia e de uma campanha de difamação da mídia. O espírito de despertar foi sistematicamente destruído. E ficou pior: o que tinha começado de forma progressista e positiva se transformou em reacionário e negativo em 2015, tendo como desfecho o impeachment de Dilma Rousseff, cujo resultado final é Bolsonaro.
O fracasso de 2013 se deveu também ao fato de que não houve um movimento coerente nem surgiram personalidades carismáticas capazes de dar direção e voz ao protesto. Pois essa é a única maneira de cativar as pessoas com novas ideias: elas precisam ser convencidas por outras pessoas em quem confiam. Pessoas com paixão, credibilidade, coragem e vontade de mudar o mundo para melhor.
Faz parte da tragédia do Brasil que essas personalidades atualmente pareçam não existir no espectro progressista. Rejeita-se apaixonadamente Bolsonaro. Mas não se formulam as próprias exigências e ideias. E, assim, o Titanic continua navegando em direção ao iceberg, com o capitão gritando: "a todo vapor!"
Philipp Lichterbeck
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