quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A cultura da reação

Falta dinheiro para tudo no serviço público, especialmente para ações preventivas, mas basta acontecer uma tragédia para as autoridades “constituídas” se desmancharem em prantos e se desdobrarem em público, achando recursos onde não havia, como se a emergência, após a casa arrombada pelo ladrão, obrasse milagres.

Foi assim com a Lei dos Crimes Hediondos, após o assassinato de uma atriz por um colega de trabalho e sua mulher enciumada. Está sendo assim agora, com o incêndio que consumiu o Museu Nacional e todo o seu acervo.


Não havia recursos para manutenção do museu. Até a Universidade Federal do Rio de Janeiro, dirigida por forças que se dizem amantes da cultura, reduziu de R$ 600 mil para R$ 300 mil os repasses ao bicentenário centro de cultura.

O Ministério da Cultura andou a passos de tartaruga para concluir processo de destinação de verbas para o museu, em junho deste ano, e continuou em câmera lenta para liberar o que foi aprovado, até que vieram as chamas e engoliram tudo. 

De repente, o presidente Michel Temer enfiou a mão na botija e arranjou R$ 15 milhões para recuperar o que foi destruído. Para impedir a destruição, não havia um centavo.

Predomina, no Estado brasileiro, a cultura da reação. Não há policiamento na rua, mas basta ocorrer um crime grave para o governo mobilizar um aparato policial para cuidar da cena do delito, como se aquele efetivo estivesse ali para impedir o descanso do morto.

Miguel Lucena

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