Convenhamos que equilíbrio e razão não tem sido as características mais marcantes dos últimos anos. E, pior, provavelmente continuarão ausentes no horizonte previsível. Acostumamos com a irracionalidade e falta de civilidade. E não parece existir ou pelo menos a gente não enxerga, outra maneira.
E parece ter piorado muito com o crescimento das mídias sociais. Todo mundo fala de tolerância, inclusão, respeito, e de muitas outras aspirações. Mas na hora da pratica, abraçamos com entusiasmo os apedrejamentos públicos, coletivos e sumario. Se é que já houve algum dia, não existe espaço para equilíbrio na mídia social.
Espanta a rapidez com que multidões se formam para apedrejar supostos vilões por coisas que talvez tenham feito. Ninguém mais tem tempo para considerar (ou tentar) contexto, fatos, circunstancias.
O julgamento é sempre sumario. Dispensa evidencia, racionalidade ou equilíbrio. Parecer politicamente incorreto é a única exigência para a condenação, as vezes definitiva, mas sempre pública. Uma frase infeliz é o que basta para um bom apedrejamento. Nas mídias sociais, punição e humilhação pública são entretenimento para as massas.
Depois de lutar séculos por liberdade de expressão, crença e opinião, o mundo parece agora estar condenado a medir precisamente tudo o que fala, escreve ou diz. Teclados e línguas devem nestes tempos funcionar como fitas métricas. Sem direto a margem de erro.
Proibir expressão não impede o pensamento. Não se combate intolerância com mais intolerância. Qualquer possibilidade de diálogo ou mudança de opinião desaparece. A razão morre. E o ressentimento floresce, escondido da vista de todos.
E aí mora o perigo. De uma forma ou outra, ressentimento abafado acumulado tende a se manifestar através de decisões sobre as opções disponíveis. E nestes tempos onde as opções disponíveis são questionáveis, o risco da escolha errada é imenso. E talvez inaceitável. Ou mesmo inacreditável. É tudo o que dá para esperar da era da insensatez.
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