quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Precisamos encurtar a distância quilométrica entre eleitor e eleito

Escrevo pensando nos políticos que têm mandato, mas sem deixar de reconhecer que somos nós que os escolhemos. Há, porém, outra verdade: o que interessa à maioria deles não interessa a seus representados – obviamente, por nossa culpa, por culpa deles e por culpa do atual sistema eleitoral. A distância quilométrica que separa os dois precisa ser encurtada. Ela compromete a liberdade. Só a atingiremos, em sua integralidade, por meio da política, e não de sua negação. A política, praticada com liberdade e respeito, é o caminho que leva à paz.

Padeço de doença crônica, provocada pelo vírus da esperança. Por isso, não arredo o pé dela um milímetro. Confio em dias melhores, mas consciente de que eles jamais virão de graça. Têm que ser conquistados. Nosso Congresso não difere muito dos que existem no mundo. Adoto, também, esta lição quando encaro o mundo e, sobretudo, os seres humanos: em primeiro lugar, aceito-os em sua diversidade; em segundo, tento compreendê-los; em terceiro, quando erram, apresento-lhes o perdão mútuo. Mas não está fácil agir assim com os políticos...

Claro que, na realidade, ao insistir comigo mesmo, minimamente, na prática do que estou dizendo, concentro-me em mim e em minhas crenças. Não é à toa que tento transmitir aos que me são caros (família, amigos etc.) esta preciosa lição: sonhem sempre e tentem ser honestos, nem que seja por esperteza. A honestidade não só é possível, como nos proporciona um futuro seguro. O sonho é nossa indestrutível morada. Matá-lo seria o maior de todos os homicídios. E quem o diz, com outras palavras, é o poeta Fernando Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso”.

O que digo aqui (reconheço, leitor), não passa de exercício de fé. A fé, qualquer delas, tem que ser exercitada. O mesmo acontece com a virtude. Ninguém se torna próximo dela se não a pratica em seu dia a dia. E isso, eu sei, não é, nunca foi, nem jamais será fácil.

Nada disso que estou a dizer até agora visita, em sua maioria, as cabeças de nossos representantes no Congresso Nacional. O que lhes interessa mesmo é sua sobrevivência no dia seguinte. A expressão “bem comum” não tem qualquer sentido. Utilizam-na, vez por outra, demagogicamente, em peças de propaganda. Por isso, não estão nem aí para a mãe de todas as reformas – a política. Ao contrário: querem-na do jeitinho que sempre foi.

E tudo isso por culpa só deles?

Já se divulgou, mas não resisto à repetição, o que declararam dois deputados na semana que passou sobre a indispensável (e adequada) reforma política. O primeiro deles, Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), foi muitíssimo claro quando afirmou que “a reforma política só está sendo feita por causa do financiamento. Foi por isso que começamos a discutir sistema eleitoral, voto em lista, distritão. Agora, tudo é para aprovar o fundo porque, sem ele, não tem dinheiro”.

Já o relator da reforma política, deputado Vicente Cândido (PT-SP), reconheceu, publicamente, que “aprovar uma reforma política para o ano seguinte é impossível porque o povo aqui (referindo-se ao Congresso) faz de tudo, menos passar a faca no próprio pescoço”.

Interessa pouco o arremedo de reforma política que vier. A imbatível arma do eleitor continuará em suas mãos – o voto livre e direto. Usemo-lo no ano que vem para transformarmos a cara deste país.

Nossa vez está chegando, leitor.

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