sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Não votaram pela estabilidade

A crise política começou em 2013, com as Jornadas de Junho. E não parou. Veio a virulenta campanha de 14, a explosão da Lava-Jato em 15, o impeachment de 16. De milhão a bilhão, as tantas gravações inacreditáveis. Prisões. O efeito é que fomos nos anestesiando. Mas o que ocorreu ontem na Câmara dos Deputados foi chocante.

Não podemos nos entregar à apatia pelo choque continuado. É preciso compreender que ontem foi grave. Muito grave: a Câmara dos representantes do povo sequer fingiu. Simplesmente ignorou a vontade popular.

Segundo o Ibope, 81% dos brasileiros desejam que Temer seja investigado e julgado. Uns dias antes, o Datafolha chegou à mesma conclusão, aos mesmos 81%. Este é o desejo popular. Os deputados o ignoraram.

Deputados podem ignorar o desejo popular. É parte do jogo: para isso, devem no mínimo reconhecer o que estão fazendo e se justificar. A nobreza os obriga. Não há nobreza. Ontem, fingiram desconhecer o que todos sabemos. Repetiram, um após o outro, que o faziam pela estabilidade. Não haverá estabilidade com o presidente mais rejeitado deste período democrático.

Michel Temer abriu os cofres da União. Gastou o que não tinha. Converteu parlamentares. Aumentou nossos impostos para cobrir o buraco que criou com o objetivo de se manter no Palácio do Planalto. Foi isto que aconteceu. Temer sequer disfarçou. Os deputados da Bíblia, do boi e da bala votaram em peso. Na cara dura.

Não só eles. Interessados em um presidente fraco até o fim de 2018, os deputados do PT trataram rapidamente de boicotar o plano da oposição de evitar o quorum e ganhar tempo no voto. Fizeram-se de vestais interessadas no combate à corrupção — logo quem. Logo quem. Votavam contra Temer enquanto garantiam o resultado oposto.

Todos preocupadíssimos com a estabilidade do país.

Da última vez em que o Congresso tão acintosamente votou contra o desejo do país foi para derrubar as Diretas na Emenda Dante de Oliveira. Aconteceu de novo.

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