A guerra e a espanhola alertaram toda uma população para a realidade da morte. Com isso, quem não morreu sentiu-se no dever de celebrar a vida, brincando o Carnaval como nunca antes. A cidade saiu em peso para os corsos, ranchos e batalhas de confete. Os pierrôs e caveiras não se contentavam em pular —invadiam as casas e arrastavam os renitentes para a folia. Pela primeira vez, o samba superou os outros ritmos nas ruas. E, numa dessas, o menino Nelson viu, dançando no alto de um carro, na praça Saenz Peña, uma moça fantasiada de odalisca, com o umbigo à mostra.
Ninguém de sua família tinha umbigo —ele próprio só agora descobria o seu. Para Nelson, o dito umbigo, chocante e inédito, simbolizou aquele Carnaval, tido como o maior de todos até então.
Bem, isso foi há 98 Carnavais e, desde então, os umbigos abundaram e ninguém lhes dá mais atenção. Mas o gigantismo e a euforia com que o país pulou este Carnaval de 2017 fazem lembrar o de 1919. Por que, de repente, todas as ruas do Brasil —inclusive as que, até outro dia, eram virgens em Carnaval— foram tomadas pelas multidões?
Só pode ser porque, ainda em meio à pior recessão da história, os 24 milhões de desempregados e subempregados brasileiros não querem esperar pela luz no fim do túnel. Resolveram pular no escuro, mesmo.
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