A "nova direita", na expressão de Barros, só tem relevância para almas viciadas nas guerrilhas crônicas das redes sociais. O governo Temer, obviamente, tem a sua importância, mas o dilema de fundo, entre as reformas de mercado e a Lava Jato, diz respeito à nação inteira, não só aos governistas ou à tal "direita brasileira". A pergunta é: como se situa frente a ele a "esquerda brasileira", da qual Barros faz parte?
As "reformas de mercado" não emergem no vácuo histórico, mas como uma solução possível para a devastação das contas públicas e dos balanços das estatais pelos governos da "esquerda brasileira". Não há meios de deflagrar uma discussão honesta sobre elas sem, previamente, fazer um diagnóstico da política econômica que conduziu à maior depressão registrada no país desde o colapso cafeeiro. Para não reformar-se a si mesmo, o PT foge desesperadamente desse tema. Como não lastimar que os intelectuais de esquerda contribuam com a fuga, empregando o álibi de apontar impasses nas igrejinhas histéricas da direita?
Temer pode cair, fulminado pelo TSE ou pela Lava Jato. Seria substituído por um presidente de transição, escolhido pelo Congresso. Nesse cenário, a Lava Jato permaneceria na cena, sustentada pela independência do Judiciário. As reformas de mercado tampouco evaporariam, pois contam com respaldo da maioria parlamentar. O Brasil não está obrigado a escolher entre a devassa judicial da corrupção e as reformas de mercado, pois nenhuma lei de ferro da lógica binária impede que tenha as duas. A pergunta é: será que, como sugerem os ataques lulistas à Lava Jato e a resistência do PT às reformas econômicas, a "esquerda brasileira" preferiria bloquear as duas?
O PT passou suas duas décadas iniciais denunciando a captura do Estado pelos interesses privados. No seu primeiro mandato, Lula ensaiou uma reforma da Previdência e especulou sobre a necessidade de uma reforma trabalhista. Durante os meses agônicos de Joaquim Levy, Dilma explicou que seria preciso aumentar a idade de aposentadoria. Hoje, de volta à oposição, o lulopetismo recolhe-se à caverna do populismo e do capitalismo de Estado, enfeitando-a com delinquentes invectivas contra o Judiciário. Na esperança de um 2018 "sem medo de ser feliz", investe no caos político e no prolongamento da depressão econômica que produziu. Os intelectuais "companheiros de viagem" dão sua contribuição, esvaziando de sentido o debate público.
No texto de Barros, os rumos da economia e a natureza do Estado surgem como cascas de banana na calçada por onde transitam seitas apopléticas de "liberais" adoradores de Bolsonaro e Trump. É uma forma de ocultar que essas duas facetas da crise nacional representam o enigma que a "esquerda brasileira" precisa decifrar.
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