Eis que, em um dado dia, uma destas empresas - precisamente a maior delas, uma montadora de veículos - detectou que a água fornecida pela rede pública causava ferrugem em seus produtos, sendo contaminada e imprópria até para uso industrial.
A situação foi resolvida da seguinte forma: a montadora de veículos recebeu ajuda das autoridades municipais para passar a receber água da vizinha cidade de Detroit. Problema resolvido!
Constatou-se, então, que os habitantes da cidade estavam expostos a toxinas as mais diversas - e vários morreram por conta delas. Nove mil crianças apresentavam sintomas de intoxicação por chumbo, com consequentes danos ao cérebro.
Diante da repercussão negativa a nível nacional, finalmente movimentaram-se as autoridades: o povo de Flint passou, então, a receber aquela mesma água lá de Detroit, consumida pela montadora de automóveis, adequada para uso industrial e humano.
Lembrei-me deste episódio ao ler uma tese de doutorado apresentada à USP, desenvolvida em torno do ar daqui de Vitória. Transcrevo algumas conclusões:
"As prevalências de sintomas respiratórios encontradas foram elevadas em Jardim Camburi e Jardim da Penha, quando comparadas a estudos nacionais e internacionais".
"Foi encontrada uma associação entre proximidade da indústria, contribuição industrial à poluição, e sintoma respiratório no bairro de Jardim Camburi".
Pense, agora, em quantas crianças daqui estão sofrendo por conta de doenças respiratórias as mais diversas. Calcule quantos dias de vida você terá a menos por conta dos resíduos industriais aspirados para seu pulmão. E lembre, com as vítimas de Flint, da famosa frase de Henry Ford: "amar o povo é fácil, o difícil é amar o próximo".
Pedro Valls Rosa
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