No início do mês, alertei para o fato de que os tempos da crise seriam acelerados por causa das contradições da ação governamental e do volume de achados da Operação Lava-Jato. Agora, os sinais vitais de um governo que está em coma parecem comprometidos, o que indica a quase irreversibilidade do impeachment.
No campo econômico, os sinais são os piores possíveis: inflação, desemprego e baixa atividade retratam a difícil situação do Brasil. As autoridades da área não conseguem produzir mínimas expectativas de retomada e se apegam a um discurso de oferta de crédito que não captura o interesse do empresariado. As projeções apontam para uma longa recessão e recuperação somente em 2018.
Na área jurídica, o governo se encontra no corner pela sucessão de trapalhadas, vazamentos, revelações e declarações inconvenientes. Além da certeza de que certos atos e ações do governo visaram tão somente conter o andamento da Lava-Jato.
Nada do que aconteceu passará despercebido por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, que deverá ser confirmada pelo plenário, impediu a posse do ex-presidente Lula na Casa Civil e manteve sua investigação na 13ª Vara Federal de Curitiba, com o juiz Sérgio Moro.
Na política, pesquisa da Arko Advice feita com 100 deputados revela elevada chance de aprovação do impeachment: 62% acreditam que o processo será aprovado.
Outro fato que se confirmou foi a disposição de o Senado dar curso ao processo, caso seja aprovado na Câmara. A composição da Comissão do Impeachment se revela equilibrada, com leve tendência pró-impeachment, o que é muito ruim para o governo, que entra no debate já em desvantagem.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que é hora de o senador Delcídio do Amaral ir ao Senado falar o que sabe, o que, no mínimo, servirá para retroalimentar a pressão contra o governo e os envolvidos. Em entrevista à TV Globo, Delcídio afirmou que nas próximas semanas devem aparecer novas revelações sobre o financiamento da campanha de 2014 da presidente Dilma Rousseff.
O movimento de levar Lula para o governo, além de estar paralisado pelo STF não repercutiu positivamente no meio jurídico, político e social. Tampouco deu esperança de que ele possa animar a economia a partir da Casa Civil.
No campo social, a situação é dramática. Com todo o aparato sindical mobilizado pelo PT, inclusive pagando hotéis e alimentação, a manifestação pró-governo na sexta-feira (18) não reuniu mais do que 7% do total que foi às ruas no domingo (13/03) a favor do impeachment. Pesquisa Datafolha mostra que 68% da população apoia o afastamento da presidente.
Em tais circunstâncias, o governo caminha para o fim. Dilma Rousseff luta em muitas frentes, simultaneamente, mas não reage à altura dos desafios. Perdeu o timing da criação de uma linha de defesa com aliados não petistas. Será traída, sem dó nem piedade, por aliados que sempre se sentiram desprestigiados e menosprezados pela arrogância palaciana.
O caminho do fim não será tranquilo. Vai haver confusão. Podem ocorrer tentativas de invasão do Congresso. Aliados mais radicais do PT vão querer tumultuar a partir do mote de que “não vai haver golpe”. A ironia de tudo é que, realmente, não vai haver golpe. Tudo será feito dentro do marco constitucional.
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