Há décadas (nem quero precisar quantas!), assisto ao desenrolar da nossa política. Digo, sem medo de errar, que já passaram por ela verdadeiros homens públicos. Quando me recordo deles, concluo, humildemente, mas com orgulho, que o velho de hoje mantém os mesmos ideais que o jovem de ontem tão ardorosamente defendeu.
Gostaria de dizer, então, leitor, para evitar a enxurrada de lembranças, boas e ruins, que agora ameaçam tomar conta de mim, e sem entrar em qualquer discussão ideológica (tenho preguiça dessa lenga-lenga radical entre esquerda e direita), apenas o seguinte: a missão do governo num país democrático, único regime político capaz de promover, com liberdade, o desenvolvimento sustentável, deve ser a de olhar, permanente e preferencialmente, para os mais necessitados, na busca da “justiça social” – uma expressão usada em comício, mas jamais praticada no país, pois ela depende do binômio “educação e saúde”.
O legado que o governo do ex-presidente Lula teria deixado aos brasileiros, segundo ele, defendido com arrogância pelos petistas, seria a retirada de 45 milhões de brasileiros da pobreza. Lula teria realizado, nos seus dois governos, aquele ideal a que me referi acima. Visto de longe, imaginava-se que o ex-presidente se preocupava com os pobres. De minha parte, durante um bom tempo, fiz essa leitura.
Quando, porém (e depois de achar que o mensalão estava superado), Lula optou pela indicação de Dilma como candidata à Presidência da República, a receita lulopetista desandou de vez. Foi essa, sem dúvida, a sua maior falha. Inaceitável quando proveniente de quem sempre se mostrou esperto. Dilma nunca esteve à altura do cargo. É pueril o argumento de que a indicou porque queria voltar em 2015. Lula se esqueceu da lição: a esperteza, quando é demais, come o dono.
Agora, depois das escutas telefônicas envolvendo não somente ele, mas figuras que ocupam ou ocuparam cargos de relevo em nossa pobre e vilipendiada República, um retrato sem retoque do que é e sempre foi o ex-presidente (está claro isso hoje), temos elementos para fazer um juízo – o mais próximo da realidade – do que de fato aconteceu. Ou seja: Lula usou milhões de brasileiros, precisamente os mais humildes e necessitados, para chegar não à Presidência da República, mas ao poder, e nele permanecer. Lula ou os traiu cruelmente, ou aos ideais que dizia ter, sem preocupação com a ideologia, no sentido de melhorar a vida dos desvalidos – ou nunca existiram, ou o gato comeu. Se não corrermos, o que possa ter feito de positivo logo desaparecerá.
Cacá Diegues, em artigo em “O Globo”, disse: “(Não consigo entender) como homens de esquerda criticam com raiva o combate à corrupção no país e em nossas vidas, como não consigo entender como liberais se deixam enrolar por defensores da ditadura e da explícita falta de liberdade”. Concordo com ele, mas discordo do cineasta quando diz que o impeachment promoverá “uma divisão radical entre brasileiros”.
Infelizmente, para os que ainda creem nele, Lula se transformou num autêntico e perigoso “coronel moderno”. Absolutamente submissos, seus companheiros (ou serão vassalos?), nas gravações autorizadas, se dirigem a ele de modo reverencial. Tanto a sua presença quanto a da presidente, no governo, ameaçam o futuro do nosso país.
Enfim, Lula revelou ao Brasil e ao mundo seu real perfil: autoritário e, por isso mesmo, desprovido de qualquer senso moral.
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