terça-feira, 1 de março de 2016

Monopólio e crise dos jornais?

No Seminário O Papel do Jornal, havido em Brasília, em 27 de novembro de 1996, o jornalista Alberto Dines declarou que a imprensa vive uma de suas maiores crises de identidade; está debilitada pela TV e pelos que apregoam o ajustamento do jornalismo impresso aos padrões do telejornalismo. Temerosa da ameaça da melhoria tecnológica, que promete atingi-la na própria estrutura, vai caindo no vício da leviandade e cresce em arrogância.

E desfila as razões. Aponta a imensa concentração das empresas do ramo em mãos de pouca gente, com a queda do pluralismo e do exercício democrático no processo da informação. Liberdade de expressão é singularmente plural. “A liberdade de expressão pressupõe a existência de contrastes entre os emissores, pressupõe a variedade de opções, a multiplicidade de opiniões, a diversidade de comportamentos que vêm sendo progressivamente eliminados pelo solerte processo de copiagem, imitação, homogeneização e equalização”, disse.

As empresas caíram e vão caindo na posse de gente desligada de compromisso com a cultura. Editoras de jornal se lançam na exploração da TV, e disso resulta desastre em um e em outro campo. Surgiram cartéis internacionais de informação, mantidos pelo dinheiro do capitalismo selvagem, com suas ações-lixo, que atingiram extraordinário valor e se precipitaram no vazio do crime. Em informação coletiva, vigora a legenda “do nada se cria, tudo se copia”. Órgãos de informação exercitam deslavado modismo e praticam copiagem, imitação. É a ressurreição da Gillete Press, de meio século atrás.

O conhecimento do que se passa no mundo vem dos despachos das agências de notícias, sujeitas ou ligadas ao pensamento do dinheiro que as mantêm. Nos países democráticos, o dinheiro está na elite dirigente, enquanto está, nas ditaduras, na mão dos autocratas. De qualquer modo, textos e fotos estão tisnados pelo interesse da posição do provedor de informações. O que os leitores e vedores sabem é o que as fontes admitem. O melhor exemplo da distorção universal neste quadrante está em discutir-se qual a verdadeira causa da última guerra mundial. Grande massa humana conhece apenas um lado dessa questão; e, se você expõe o outro lado, contesta a validade, porque jamais conheceu diferente fonte do saber. A versão vitoriosa na quantidade virou coisa julgada.

Outro artifício dessa treta de modernidade – Dines afirma – é a ilusão da tecnologia como remédio para tudo. Ocorre que ela não qualifica produto ou serviço, apenas conserta um pouco da casca, não mexe no cerne da coisa; pode alterar a embalagem, mas o conteúdo permanece insosso. Parece que todos os anos os grandes jornais trombeteiam o aluguel de um técnico equatoriano, com 33 anos de perícia, e que vai pôr para quebrar na modificação da folha, reforma após reforma, novo formato, mais um caderno para sensaborias.

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