quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A crise por que passa o país só será vencida com mais democracia

A crise por que passa o país só não é definitivamente desesperadora porque temos, como única arma (e a sua maior força é a liberdade), a democracia, tantas vezes combatida ou até destruída pelos que sempre a temeram. É nessa plantinha tenra, que exige de nós vigilância e dedicação, que reside toda a nossa segurança. Uma ideia-força que já enfrentou muitas ditaduras, tanto de esquerda quanto de direita. Que o digam Hitler e Stalin, que um dia se arvoraram donos do mundo. A verdade é uma só: povo nenhum prospera sem liberdade. Só ela nos dará meios para combater a desigualdade e administrar a justiça.

O que garante a permanência dessa plantinha entre nós são as nossas atuais instituições, que nos autorizam, por exemplo, não só a pensar, mas a externar o que pensamos, falar ou escrever francamente, bem como analisar, sem nenhum temor, o desempenho dos nossos eventuais governantes. São elas que permitiram que a corrupção no país fosse finalmente enfrentada com vontade e coragem, tanto da Polícia Federal quanto do Ministério Público Federal. Ambos podem contar com o apoio do Poder Judiciário, representado, com fidelidade, ao lado de tantos outros, pelo juiz Sérgio Moro – um homem culto, competente, eficiente e probo, qualidades essenciais ao bom julgador.

Não nos impressionemos, leitor, com a decisão do Supremo Tribunal Federal de retirar do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, mas, principalmente, do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba (por enquanto, só houve um caso, o que envolve a senadora Gleisi Hoffmann), um ou outro braço da operação. Pode ter agradado a alguns afoitos advogados, que imaginam que, daqui em diante, as coisas serão diferentes, pois a abertura de outras frentes de apuração nos Estados lhes dará, no mínimo, mais tempo ou, quem sabe, a absolvição dos réus seus clientes. O advogado de João Vaccari Neto já está pensando até em pedir a anulação do processo contra ele. Doce ilusão!

O receio manifestado, em entrevista, pelo juiz Sérgio Moro, de que “a dispersão da investigação não serve à Justiça, pulveriza o conjunto probatório e dificulta o julgamento” veio em boa hora.

É um chamado geral à responsabilidade.

Se a decisão do STF se mostrar, na realidade, eivada de segundas intenções, não terá resultado na prática. Não existe só um Sérgio Moro no país. Não devemos admitir, a priori, que outros juízes tenham a coragem de destruir o que já foi feito até agora contra a maior organização criminosa jamais vista no país, responsável pela gravíssima crise de caráter por que passam os brasileiros. Nenhum juiz será adversário dessa verdadeira cruzada contra a corrupção, empreendida, desde junho de 2013, pela sociedade brasileira como um todo, cansada e absolutamente enojada com a sujeira moral que tomou conta do país.

O mais provável é que a decisão tomada pelo STF acabe por multiplicar os “Moros” pelo país e os torne ainda mais ciosos da responsabilidade de que foram investidos perante a nação brasileira. E o tiro, leitor, certamente, sairá pela culatra, se é que houve, da parte de oito ministros, a intenção de subestimar a inteligência do povo brasileiro.

Nego-me, enfim, a acreditar que qualquer um dos ministros do STF que votaram pelo fatiamento da operação Lava Jato desempenhe papel que não seja o de respeito à Justiça e à ética. Admitir o contrário é admitir o fim do Poder Judiciário. Um desastre irreparável.

Somos todos Sérgio Moro!

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