O anúncio do “pacote” do governo me fez voltar no tempo. Aliás, houve ali um momento muito interessante de verdadeiro ato falho: o ministro Joaquim Levy, ao citar exemplos no mundo de quem vem propondo medidas semelhantes, não teve como segurar e revelou: “aliás, como vem sendo feito por vários governos conservadores, a saber, o do ministro Cameron na Inglaterra, dentre outros”. Quer maior candura que isso? Os dois ministros, Levy e Barbosa, são absolutamente crus em matéria de informação histórica e jurídica. Mas os jornalistas que os interrogavam – com exceção apenas do último a perguntar – pouco sabiam sobre os assuntos que estavam sendo propostos.
A chiadeira já começou mal terminou o anúncio das medidas. Um mundaréu de gente contra. A começar, é claro, pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, que falou grosso em nome dos empresários contra a remessa de recursos do Sistema S para a Previdência Social. Memória curta tem d. Dilma. E ela, pela idade, deveria se lembrar. Foi no governo Figueiredo que aconteceu a primeira e única vez em que um decreto-lei foi editado e revogado no curto espaço de um mês. E o motivo, absolutamente idêntico ao de agora: seu governo tentou passar recursos do Sistema S para a Previdência e teve de recuar diante da gritaria dos empresários. Pegou mal também que o corte de gastos tenha vindo incompleto: quais ministérios serão fundidos com outros ou simplesmente desaparecerão? Antigos e malandríssimos políticos costumavam dizer que você nunca deve nomear quem não pode demitir. Como é que ela vai fazer para despachar os ilustres representantes da montoeira de representantes dos mais diferentes partidos que conformam o “cordão da bola preta” que a elegeu e garantiu a reeleição? A começar pelo próprio PT, que antigamente (ah, o PT de antigamente!) rejeitava qualquer cooptação de movimentos sociais com a criação de secretarias disso ou daquilo – como foi o caso em Minas, quando Tancredo Neves criou pela primeira vez, creio, uma Secretaria das Mulheres e entregou esse confeito de bolo para alguma sigla cooptável... Tristes tempos os de agora!
Sandra Starling
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