O PT, na tentativa de explicar a rejeição geral de que padece, denuncia o advento de “uma onda conservadora” no país.
A direita, financiada sabe-se lá por quem, estaria por trás da insatisfação popular que penaliza o partido, confinando-o aos ambientes fechados, imunes a vaias e panelaços.
Tudo, no fim das contas, não passaria de um artifício perverso, vitimando gente boa e inocente.
A maioria, porém – quer na classe média, quer entre os mais pobres, onde a rejeição aos petistas atingiu níveis inéditos -, não professa nenhuma ideologia. Quer apenas ser governada por gente decente e com alguma competência. E o que vê é o contrário: um governo ruim, cercado de escândalos por todos os lados.
Os ajustes na economia pressupõem a vigência de desajustes, construídos em doze anos de governo petista. Não é possível atribuí-los a antecessores, até porque os três últimos eram do próprio PT. Não bastasse, há os escândalos. Nada disso é conservador ou progressista: simplesmente é.
Se os 90% que rejeitam o governo do PT, segundo pesquisas encomendadas pelo próprio Planalto, compusessem uma “onda conservadora”, o Brasil estaria protagonizando um fenômeno mundial: um país conservador sem um único partido a vocalizá-lo. Todo o espectro partidário se diz de esquerda ou centro-esquerda. Até o DEM se diz um partido de centro. Ninguém é de direita.
O conservadorismo brasileiro é muito mais na esfera comportamental, relacionado a valores de índole religiosa, decorrentes de sua formação cristã, que de ordem político-doutrinária. O brasileiro médio continua a crer mais no Estado que na iniciativa privada - mas não, obviamente, num Estado criminoso.
Aliou-se aos que, no passado, chamava de facínoras, e superou-os na arte da rapina. Elevou-a à casa dos bilhões. Pedro Barusco, o gerente que servia a Renato Duque – o homem do PT na Petrobras – confessou ter recebido R$ 200 milhões em propinas. E, para não deixar dúvida, devolveu-os.
Se a confissão é a rainha das provas, adquire ainda mais majestade quando acompanhada da devolução do roubo.
Todo o escândalo mundial da Fifa, até aqui, revelou o desvio de R$ 150 milhões. Ou seja, a ladroagem futebolística perde de goleada não para a do PT, mas apenas para de a de um de seus subalternos. Pelo montante em jogo e evidências de que o padrão criminoso se estendia a outras estatais, sabe-se que é impossível que tenha sido fruto, como declarou a presidente Dilma, apenas da ação de um “quarteto de delinquentes”.
As sucessivas investigações da Operação Lava-Jato mostram que figurões do partido – e do governo - estiveram à frente do maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia.
A própria Petrobras admite, em seu balanço recém-divulgado, o roubo de R$ 6 bilhões – que a ex-presidente, Graça Foster, havia dito que era de R$ 88,6 bilhões. Os números, por enquanto, dão mais credibilidade às contas de Graça Foster que às de seu sucessor na presidência da estatal, Aldemir Bendini.
O presidente do PT, Rui Falcão, diz que jamais nenhum governo investigou tanto a corrupção quanto os do PT. No entanto, o mesmo governo, que diz promover as investigações, se empenha no Congresso em barrar CPIs, como a do BNDES. E protesta contra o enquadramento de seus delinquentes na Justiça.
O que está claro é que o governo não investigou coisa alguma; apenas não conseguiu impedir que órgãos do Estado, como Polícia Federal e Ministério Público, o fizessem.
Se estivesse a seu alcance impedi-lo, não há dúvida de que o faria, como o faz no Congresso ao acionar sua maioria para impedir a instalação de CPIs ou sabotar as já instaladas.
A onda de rejeição está mais relacionada à letra do Código Penal que à dos manuais de doutrina política. Se se quer conservar alguma coisa, é o que resta de decência e bom senso no país.
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