Não há espaço para dúvidas. Para Lula o Estado é um instrumento para que o chefe possa distribuir favores. E, pelo que diz, ele teria sido recordista nessa práticaPose de galo de briga, tom de desafio e farta distribuição de impropérios aos seus críticos. Nada de novo. No palanque montado pela CUT no 1º de Maio, o que se viu foi mais do mesmo. Lula sendo o Lula que ele crê insuperável. Lula que, diante da elevadíssima conta que tem de si, não percebe - ou faz de conta que não vê - a mudança dos humores em relação a ele e ao PT.
Candidatíssimo, mas incapaz de vender ilusões depois de mais de uma década de sucessivos escândalos de corrupção, incompetência gerencial e desgoverno, Lula não tem saída a não ser repetir a mesma cantilena. Faz-se de vítima, se diz durão, garante que não vai abaixar a “crista”, nem o “rabo”, seja lá o que isso quer dizer.
Defende a sua pupila Dilma Rousseff por conveniência – a derrocada dela coloca em risco suas chances de sucesso em 2018. Mas fala como opositor ao governo, como se nada tivesse a ver com a ocupação do Estado pelo seu partido ou com a roubalheira deslavada. Como não fossem companheiros os condenados no mensalão e os agora envolvidos nos R$ 6 bilhões surrupiados da Petrobras. Fala como se o desacerto na economia fosse obra do acaso.
Os inimigos que Lula elege continuam os mesmos. Ao ódio à revista Veja, Lula acrescentou a semanal Época, que na última edição revela que o ex é alvo de investigação por tráfico de influência por ter beneficiado a Odebrecht em contratos externos financiados pelo BNDES, mantidos em sigilo pelo banco estatal.
Mas, diferentemente do que costumava fazer ao demonizar a mídia, desta vez Lula agrediu diretamente os jornalistas: “Peguem todos os jornalistas da Veja e da Época e enfiem um dentro do outro que não dá 10% da minha honestidade”. E insinuou que as empresas lhe devem favores - “Conheci muitos meios de comunicação falidos e ajudei porque acho que tem de ajudar”.
O tom da fala beira a chantagem, como se agora quisesse cobrar a conta.
E estendeu isso ao que chama de elite brasileira, toda ela devedora de suas benesses. “Eles deveriam agradecer a Deus, todo dia acender uma vela, pela minha passagem e da Dilma pelo governo, mas são masoquistas, gostam de sofrer”, disse, depois de revelar seu espanto de essa mesma elite temer que ele volte à Presidência.
Não há espaço para dúvidas. Para Lula o Estado é um instrumento para que o chefe possa distribuir favores. E, pelo que diz, ele teria sido recordista nessa prática.
Como candidato, Lula precisará mais do que discursos requentados na jornada que se estende até 2018. Seu partido e sua afilhada estão acuados. Outros aliados – especialmente o fiel PMDB – cultivam terrenos e asas para voos mais ousados. Economia estagnada combinada com inflação alta e empregabilidade instável pode ser fatal às suas pretensões. E ele próprio já não consegue atrair multidões, muito menos elã inebriá-las.
Ao contrário do que disse - “Sei de onde vim, sei onde estou e sei para onde eu vou” –, Lula exibe certezas incertas. Sabe de onde veio. Mas, sem compreender as demandas do país que dispensa a sua liderança até para ir às ruas, tem no máximo uma vaga noção de onde está. Muito menos sabe para onde ir. Anda para trás.
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