Em tese, se você curte fotos de gatos, veria mais publicações da Cora Rónai ou anúncios de ração para felinos. Se é botafoguense, como eu, páginas sobre ansiolíticos se abririam automaticamente a cada partida. Juntando os dois interesses, a máquina de pubar cérebros — pilotada por Zuckerberg, Musk e Zhang Yiming — lhe sugeriria seguir Gatito, o veterano goleiro do glorioso Fogão. Mas não.
Mesmo para quem não tem qualquer interesse em tretas aéreas, o algoritmo forneceu uma overdose da saga da moça insultada e exposta por se recusar a trocar de lugar com uma criança. Caindo de paraquedas no embate entre a titular da janelinha e a mãe do birrento, uma passageira resolveu armar um palanque a bordo da aeronave. Talvez tenha farejado, ali, uma boa oportunidade de lacrar (e lucrar) no papel de justiceira. Armou e se deu mal, porque o wokismo de ocasião não colou — e o vídeo-denúncia acabou sendo um tiro no pé. Mas, de celular em punho, fez da pirraça um tema onipresente nas nossas conversas.
Pouco antes, foi a vez de a valorosa Marinha do Brasil fazer água. A pretexto de comemorar o Dia do Marinheiro, a arma que já nos deu Tamandaré, Barroso e João Cândido embarcou na canoa furada da defesa dos próprios privilégios. Para não ser torpedeado no corte de gastos (que atingiu em cheio Saúde e Educação), o cisne branco se fez de patinho feio. Os marujos se sacrificariam num mar de perigos enquanto os civis, esses folgados, apenas dançam, surfam, bebem, fazem ioga e brincam de videogame. Baita tiro n’água — e nós, que só nos lembramos da Marinha quando ela bota tanques fumegantes para desfilar no 7 de Setembro ou apoia golpe de Estado, ficamos sabendo (mesmo sem querer) que ela pode afundar mais ainda.
Em terra firme, por menor que seja a nossa disposição, cá estamos nós acompanhando o BBB em que se transformou o cotidiano das grandes cidades. Graças às câmeras corporais, a violência policial pode ser apreciada praticamente ao vivo e em cores. Principalmente a de São Paulo — o que obrigou o governador, muito a contragosto, a fazer uma correção de rota. (A Bahia é mais violenta, mas lá o governo é do PT, então a indignação não se aplica.) Câmeras de segurança também flagraram militante woke, em Belém, forjando acusação de agressão em carro de aplicativo e sacando a carta do racismo (sempre um tiro no escuro).
Nem é preciso ir atrás desses e de outros conteúdos. Eles nos alcançam, por terra, mar e ar, bastando que estejamos conectados à internet. Talvez não haja dosagens seguras para esse tipo de consumo. E não há cérebro que aguente.
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