segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

'Método Cowboy' – A estratégia de anexação

O exército israelense expulsa rotineiramente fazendeiros palestinos de suas terras e facilita o assédio de colonos judeus ilegais.

A mídia israelense tem estado alvoroçada com as recentes declarações do Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que anunciou que Israel confiscou 24.000 m² de terras na Cisjordânia.

Para os palestinos, no entanto, essa revelação não é nenhuma surpresa, já que operações de confisco de terras ocorrem quase diariamente, confiscando descaradamente suas terras em plena luz do dia.

Só os confiscos deste ano equivalem à metade de todas as terras confiscadas nos últimos 30 anos, um acontecimento amplamente considerado um desastre, mas que recebeu pouca ou nenhuma resposta internacional.

Na cidade de Aqraba, localizada a leste de Nablus e abrangendo vastas terras conectadas ao Vale do Jordão, a situação é terrível.

Desde que o atual governo extremista israelense chegou ao poder há dois anos, mais de 25.000 m² de terras de Aqraba foram confiscados para expansão de assentamentos.

Salah Bani Jaber, o prefeito de Aqraba, disse ao The Palestine Chronicle que a área total da cidade é comparável a três quartos da Faixa de Gaza, um fato que a tornou um alvo principal para apreensões de terras israelenses. A maioria das terras da cidade já foi tomada.

Este ano, o município recebeu duas decisões para confiscar um total de 12.715 m² sob o pretexto de que a terra havia se tornado “propriedade do Estado”, uma alegação frequentemente usada pelo exército israelense para justificar confiscos e impedir que moradores apresentassem objeções.

Bani Jaber observou que “todas as aldeias que se estendem até o Vale do Jordão enfrentaram confiscos de terras para expansões de assentamentos, privando os moradores locais da capacidade de usar suas terras”.


Somente nas terras de Aqraba, três assentamentos, sete postos avançados de assentamentos e quatro postos avançados de assentamentos pastoris foram estabelecidos, consumindo milhares de dunums sem dissuasão.

“Além disso, os colonos empregam o que é conhecido como 'método cowboy', onde eles soltam suas vacas em pastos palestinos. Uma vez que o gado pasta na terra, os colonos reivindicam a propriedade dela”, explicou Bani Jaber.

Essa prática se tornou a norma em todas as aldeias palestinas. De acordo com documentos de organizações de direitos humanos e especialistas, os colonos agem com o apoio financeiro total do governo israelense, não como indivíduos.

Essas operações de confisco de terras são acompanhadas por ataques sistemáticos aos palestinos, mesmo em áreas classificadas como Área B, que, segundo o acordo de Oslo II de 1995, está sob controle de segurança israelense, com autoridade administrativa palestina.

O exército israelense expulsa rotineiramente fazendeiros palestinos de suas terras e facilita o assédio de colonos judeus ilegais.

Milhares de ataques foram registrados somente neste ano, impedindo os palestinos de acessar mais de meio milhão de dunums de terras agrícolas.

Além disso, mais de 9.600 árvores palestinas, principalmente oliveiras, foram destruídas, arrancadas ou envenenadas, de acordo com dados da Comissão de Resistência ao Muro e aos Assentamentos.

O primeiro assentamento a se beneficiar desses confiscos é Ma'ale Adumim, que será expandido em mais de 2.600 m²  para conectá-lo ao assentamento de Kedar, no sul, uma medida que ocorre às custas de terras pertencentes às comunidades beduínas palestinas.

O assentamento Yafit no Vale do Jordão sofreu a maior expansão, ganhando 20.000 m² adicionais.

O analista político Firas Yaghi disse ao Palestine Chronicle que os anúncios de Smotrich marcam um passo significativo desde a assinatura dos Acordos de Oslo.

Segundo ele, os confiscos fazem parte de uma estratégia mais ampla para impor a soberania israelense sobre a Cisjordânia antes do possível retorno de Donald Trump à Casa Branca.

Smotrich estaria coordenando seus passos com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, cujo objetivo estratégico, segundo Yaghi, é minar a noção de um estado palestino e impor fatos irreversíveis no terreno, seja na Cisjordânia ou em Gaza.

“Netanyahu colocou a questão da anexação em sua agenda, pretendendo apresentá-la como uma recompensa de Trump no contexto de quaisquer negociações relacionadas a Gaza”, disse Yaghi.

As atuais apropriações de terras adicionam novas áreas aos blocos de assentamentos na Cisjordânia, reforçando a proposta de que 40% das terras sejam anexadas a Israel sob o chamado "Acordo do Século".

Apesar do consenso internacional apoiando uma solução de dois Estados, Netanyahu e Smotrich parecem encorajados pelas políticas americana e israelense, que são decisivas nesta questão.

Muitos acreditam que o retorno de Trump ao poder aceleraria esse plano, que, especulou Yaghi, também pode incluir partes do território sírio, dados os atuais acontecimentos na região.

“O plano de anexação vem se desenrolando sistematicamente de acordo com uma estrutura estabelecida por Smotrich desde seu primeiro dia no cargo. Todos estão antecipando o retorno de Trump, pois ele defende a expansão do território limitado de Israel”, afirmou Yaghi.

“Acredito que essa expansão abrangerá a Cisjordânia e potencialmente partes do território sírio, dados os atuais desenvolvimentos lá”, concluiu.

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