“A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque foi a democracia que me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez”.
Ontem, em entrevista à TV Centro América, afiliada da TV Globo no Mato Grosso, Lula comentou pela primeira vez a eleição presidencial da Venezuela realizada no último domingo:
“É normal que tenha uma briga. Como resolvê-la? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”.
Atas são boletins que registram os votos depositados em cada urna. O governo da Venezuela ainda não as apresentou, alegando ter havido uma falha no sistema. A oposição diz que as atas que acessou provam que Maduro foi derrotado.
Com 80% das urnas apuradas, o Comitê Nacional Eleitoral da Venezuela, sob o comando de um aliado de Maduro, anunciou que ele venceu com 51,2% dos votos contra 44% do candidato da oposição, o diplomata Edmundo Gonzalez.
“Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela”, acrescentou Lula. Em nota, o PT adiantou-se e já reconheceu a suposta vitória de Maduro.
Lula ainda não o fez, mas defendeu a nota do PT. De domingo para cá, a polícia de Maduro matou 11 pessoas e prendeu mais de 700 que saíram às ruas de Caracas para denunciar fraudes na eleição. Um líder da oposição foi preso na sua casa.
Em uma democracia, a última palavra é da Justiça. Acontece que na Venezuela a Justiça, as Forças Armadas, a mídia e o Congresso, que por lá atende pelo nome de Assembleia Nacional, obedecem às ordens de Maduro. Lula sabe disso.
Então, como sugerir à oposição venezuelana que entre com um recurso na Justiça para anular a decisão do Comitê Nacional Eleitoral que deu a vitória a Maduro? Talvez porque, para Lula, democracia é de fato uma coisa relativa.
Se é, o Estado de Direito também seria. E com base em tal raciocínio, os golpistas do 8 de janeiro de 2023 no Brasil poderiam justificar o que fizeram para derrubar o governo recém-instalado de Lula. Democracia não é uma coisa relativa.
A Venezuela não é uma democracia porque promove “mais eleições do que o Brasil”. Fatos e conceitos não são meras opiniões. Numa democracia, os Poderes são autônomos, as eleições são livres e fiscalizadas e há liberdade de expressão.
Na ausência de tais condições e de outras mais, o que há é um regime autoritário como o de Maduro, e como foi aqui, durante 21 anos, a Revolução de 1964, uma reles ditadura igual a tantas que existiram e ainda existem.
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