sábado, 1 de junho de 2024

O calor cozinha nossos miolos?

O clima tropical "amoleceu" os brasileiros, como sugeriu Albert Einstein em seus politicamente incorretos diários de viagem? O pai da Teoria da Relatividade foi aqui um gênio presciente ou apenas preconceituoso?

A viagem de Einstein à América do Sul ocorreu em 1925. À época não havia estudos rigorosos que pudessem amparar suas observações sobre os efeitos do clima na inteligência, de modo que o físico alemão apenas ecoava o determinismo geográfico de tons racistas que era moeda corrente à época.


Ocorre que, a partir de 1945, começam a surgir pesquisas que apontam efeitos negativos do calor sobre a cognição, não em caráter essencialista, do tipo que produziria povos irremediavelmente ignorantes, mas de forma aguda. O mesmo indivíduo tem performance melhor ou pior de acordo com a temperatura.

Valho-me aqui de informações constantes em "The Weight of Nature", de Clayton Page Aldern, livro que ainda vou resenhar, mas do qual já dou uma palhinha. No que provavelmente é o primeiro estudo controlado, Norman Mackworth mostrou que o desempenho de soldados da Real Força Aérea na transcrição de código Morse piorava nitidamente com o aumento dos termômetros. A partir dos 33ºC a diferença se tornava dramática.

Hoje há uma profusão de trabalhos nessa linha. Eles não só corroboram o vínculo como indicam que ele pode ser fonte de desigualdades. Na China, já se mostrou que estudantes das regiões mais quentes são injustamente penalizados no vestibular unificado do país, o "gaokao", que ocorre no verão.

Em Nova York, apenas dois terços das escolas públicas têm ar-condicionado. Obviamente, são as dos distritos mais pobres as que não têm. A climatização explica 5% da diferença de desempenho entre as crianças negras e não negras.

Não é coincidência que, quando questionado sobre o segredo do sucesso de Singapura, Lee Kuan Yew, o ditador que fundou o país, tenha respondido: ar-condicionado.

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