domingo, 1 de outubro de 2023

Até hoje, o apocalipse foi desmentido 100% das vezes

Queria começar por descansar as jovens ambientalistas que acham que vão ver o mundo entrar em colapso durante as suas vidas: não vão. Podem voltar a respirar. Sim, o planeta está a aquecer. Sim, a acção humana está relacionada com isso. E, sim, temos de poluir menos, consumir menos, reciclar mais. Mas nada – repito: nada – indica que as meninas que lançam tinta verde a ministros ou sopa de tomate a pinturas estejam impedidas de um dia vir a brincar com os seus netos. E agora que cheguei aos 50 anos, permitam-me um conselho de velho: todos os discursos apocalípticos tendem invariavelmente para o ridículo. A razão é muito simples: foram desmentidos 100% das vezes.


Dir-me-ão que as alterações climáticas são um desafio como a humanidade nunca enfrentou antes. Será? Se andassem por cá no tempo da “peste negra”, tenho dúvidas que pensassem assim: estima-se que ela terá dizimado pelo menos um terço da população europeia no século XIV. Todos precisamos de um sentido para as nossas vidas, e por isso é natural que cada um de nós acredite que algo de absolutamente decisivo está em jogo na sua geração. A ideia de que a civilização como a conhecemos vai acabar, e que a culpa dessa tragédia incide sobre nós, parece, à primeira vista, desprovida de consolo. Mas não é. Ela tem um poder escondido extraordinário – transforma-nos em very important people à escala planetária.

Somos a plateia VIP do Armagedão. Reparem naquilo que os ambientalistas mais fervorosos nos dizem: temos, como os deuses de Homero, o destino do planeta Terra nas nossas mãos. É um poder destruidor? Com certeza. Mas é um superpoder. Significa que nós contamos. Fazemos a diferença. Não estamos condenados a ser aquilo que foram os nossos pais, avós e trisavós – simples pó da História.

A tinta verde derramada sobre o Cordeiro é um banho lustral, que ajuda a limpar os pecados do mundo. Estes discursos apocalípticos e milenaristas são uma constante ao longo dos tempos, e com isto não estou a negar o problema das alterações climáticas – estou a sublinhar, isso sim, a nossa absoluta incapacidade de prever o futuro, o que nos convida à modéstia no que diz respeito aos excessos de fatalismo.

Em 1798, Thomas Malthus lançou o famoso Ensaio sobre o Princípio da População, que demonstrava com inabalável certeza que a melhoria das condições de vida iria conduzir a um crescimento insustentável da população, que, por sua vez, daria origem a fomes, guerras e à miséria generalizada. Os argumentos eram tão convincentes que as teses malthusianas atravessaram todo o século XIX. Em 1800, a população mundial rondava os mil milhões de pessoas. Hoje vai a caminho dos oito mil milhões. E, no entanto, a percentagem de população com fome nunca foi tão baixa. Malthus enganou-se não porque não soubesse fazer contas (é o pai da demografia e influenciou economistas respeitáveis), mas porque foi incapaz de prever tudo aquilo que o futuro traria: novas terras, novas tecnologias, fertilizantes, o brain power da espécie humana e a sua infinita capacidade de inovação, que fez disparar a produção alimentar.

A História é um cemitério de previsões tontas. Um exemplo entre milhares: há 20 anos, um relatório secreto do Pentágono afirmava que por volta de 2020 – cito um artigo do The Guardian de 2004 – “grandes cidades europeias estariam abaixo do nível do mar e a Grã-Bretanha mergulhada num clima siberiano”. Preocupação com o clima? Com certeza. Histeria e tinta verde? É de evitar.

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