Parece uma democracia, mas não é. Livros de temática inclusiva são multados, uma universidade inteira acabou expulsa do país por abrigar intelectuais críticos ao governo e a
Constituição foi reescrita para permitir a reeleição eterna do Fidesz, o partido do primeiro-ministro Viktor Orbán.
Nas duas últimas semanas foram divulgados os resultados anuais de dois rankings de democracia, o da revista britânica The Economist e o do instituto V-dem, que é sediado em Gotemburgo, na Suécia. Tais rankings são especialmente necessários em casos como o da Hungria, em que o autocrata de plantão, Viktor Orbán, usa o manto da democracia para esconder um duro regime autoritário. Os dois estudos estão anexados à versão digital da coluna.
Estive na Hungria quando Jair Bolsonaro visitou Viktor Orbán, a quem chamou de “irmão”. Antes, o presidente brasileiro havia visitado o autocrata russo, Vladimir Putin, que nunca tentou disfarçar seus ímpetos autoritários. “A visita de Bolsonaro a Putin e a Orbán não trouxe nenhum resultado prático, apenas serviu para mostrar à base do presidente que ele tem amigos no mundo”, analisa o cientista político Christian Lynch no minipodcast da semana.
E que amigos! Dias depois da visita de Bolsonaro, Vladimir Putin invadiu a Ucrânia. Num congresso no ano passado, o V-dem vaticinou que a onda autoritária aumentaria a possibilidade de guerras pelo planeta. Viktor Orbán enfrenta uma eleição difícil no próximo dia 3 de abril, e fustiga o tempo todo o Judiciário, a academia e a imprensa para se manter no poder. No Brasil, essas mesmas instituições têm ajudado a frear seu “irmão” Bolsonaro.
Vivemos numa época em que golpes de Estado, de direita ou de esquerda, saíram do cardápio político do Ocidente. O autoritarismo passou a ser uma doença que se instala aos poucos. Rankings como o do Vdem e o da The Economist detectam os primeiros sinais do mal.
No ranking do V-dem, o Brasil está entre os países em que a democracia mais se deteriorou nos últimos dez anos. Nossa situação não é comparável à da Rússia ou à da Hungria, a ditadura explícita e a disfarçada – mas é bom ficar de olho.
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