O calendário muda, mas o estilo aristocrático e elitista, antirrepublicano e autoritário, claro na Presidência e em todo lugar, permanece atrapalhando nossas vidas.
Num chavão, o “ano novo” realiza sua costumeira malandragem de mudar não mudando. Continuamos a pensar o tempo como calendário, imaginando que, quanto mais velhos, mais “adiantados” ficamos, quando, na verdade, o Brasil de hoje é uma infâmia de atrasos. É um país a caminho do suicídio moral.
Como falar num novo ano se o acontecimento básico deste tempo começa com uma campanha eleitoral que repete a anterior, negando o devir histórico?
É abominável ver a repetição da “luta” Lula-Bolsonaro, que, neste “novo ano” de 22, estão muito mais parecidos com criadores de autolorotas negacionistas — esse conceito dominante de um ano novo nascido velho. São nossos mais ávidos postulantes a “supremos magistrados da nação” — uma nação que precisa de muita água benta (e sanitária) para livrar-se de sua danação e que corre o risco de repetir-se no seu rito democrático mais importante. Reprisará na eleição sua sina de conjugar, segundo o oportunismo, burocracia-legal-processualística, compadrio regado a mandonismo elitista e carisma para dar e vender.
Estou cheio de messias, milagreiros, curadores, especialistas e religiosos carismáticos. Chega de mediadores canalhas de divindades baratas. Nosso panteão de carismáticos que mudariam o Brasil chegou ao seu limite!
Penso que, para termos de fato um novo ano, e não um “Ano-Novo” formal e ritualístico, temos de resgatar uma abandonada e destruída ética de responsabilidade e de honra. A ética do “isso eu não faço!”.
Tempos novos são ideais para tirar da latrina princípios e valores que dizem não ao nosso egoísmo e ao nosso “bom-mocismo” condescendente, que concilia Deus e Diabo; que confunde direita com esquerda e cabeça (sejamos educados...) com o traseiro...
É preciso pensar mais sinceramente quando se fala em nome do “povo”, que cada vez mais se desgraça, porque os cargos públicos são apossados pelos eleitos (na maioria, aventureiros de gravata italiana) que jamais pensam em trabalhar para o Brasil, pois, mesmo em meio a tempos novos e difíceis, continuam a pensar que são donos do Brasil...
Valha-nos, Deus!, como se dizia antigamente...
Na festa deste fim de ano, vesti preto. Estou de luto e tomo, é claro, um adequado black label. Mas, nestes anos finais de minha vida, enfrento a tentação de desistir de um país onde a “política” perdeu credibilidade. Passou de projeto a malandragem autoritária.
A tal ponto que a mentira, a falsidade e, acima de tudo, a má-fé (essa mestra das fake news e das militâncias mais perversas) tornaram-se projetos para quem escapou da abominação que foi testemunhar um presidente da República recusar a vacina contra a pandemia.
Amigos, é grande a vontade de sumir. Mas para onde ir?
Para uns Estados Unidos que se perdem em meio ao que foi a liberdade — sua grandiosa virtude democrática? Para uma China materialmente gigantesca que, com ajuda de Confúcio, torna minúscula uma cidadania já hierarquizada? Irei com os zilionários americanos dar voltas em torno do planeta que a bolsonarista alienada diz que é plano?
Ou devo apelar para o Papai Noel ianque, de quem a maioria dos brasileiros jamais foi filho ou ganhou o presente da igualdade?
Pensei, é claro, em Pasárgada.
Mas o melhor mesmo é desejar que o fogo da esperança acenda uma fagulha no coração dos leitores desta coluna. É o cintilar da esperança que construirá um autêntico Ano-Novo.
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