Vejam só quantas coisas uma simples palavra explica.
A madrugada do dia 7 foi pior do que o dia 7 propriamente dito, porque o escuro favorece as más intenções. Aquele desfile de caminhões mugindo pela Esplanada dos Ministérios, o cortejo de carros buzinando por Brasília, as pessoas embrulhadas em bandeiras.
O sentimento das trevas era real e palpável, e se espalhou pelo país — ou, vá lá, pelo país que usa redes sociais. Todo mundo foi dormir tarde, na pilha, conferindo o celular constantemente, sem saber o que esperar do dia seguinte.
O sentimento das trevas era real e palpável, e se espalhou pelo país — ou, vá lá, pelo país que usa redes sociais. Todo mundo foi dormir tarde, na pilha, conferindo o celular constantemente, sem saber o que esperar do dia seguinte.
Que, afinal, trouxe mais do mesmo.
As mesmas multidões de meia-idade, os mesmos cartazes constrangedores escritos em mau inglês, os mesmos arroubos golpistas de uma massa que não vê contradição em pedir “liberdade” e “intervenção militar” na mesma passeata.
Considerando-se a antecedência da convocação, os esforços de divulgação e de logística, e a angústia da noite, era de se esperar algo nunca antes visto na história deste país. Pois não foi. Foram manifestações grandes, mas qualquer bom show de música reúne a mesma quantidade de pessoas com muito menos trabalho.
Ainda assim, isso não faz a menor diferença. Saber quantas pessoas exatamente havia na Paulista ou na Esplanada dos Ministérios é irrelevante, apenas uma curiosidade estatística.
Não é esse o problema.
O que importa mesmo, de verdade, é que um país não consegue viver nesse estado de angústia permanente, nesse sobressalto constante. A vida precisa de paz. Mesmo em circunstâncias normais, tocar o barco já é bastante difícil num país com os problemas e o tamanho do Brasil; quem dirá durante uma pandemia. Desde o começo deste governo tenebroso (repito a palavra) não temos descanso.
O pior é que estamos ficando exaustos e paralisados, aceitando ofensa em cima de ofensa, como se a grosseria e os descalabros do “Mito” fossem apenas um estilo vagamente excêntrico, um jeitinho caserna de ser.
O pior é que estamos ficando exaustos e paralisados, aceitando ofensa em cima de ofensa, como se a grosseria e os descalabros do “Mito” fossem apenas um estilo vagamente excêntrico, um jeitinho caserna de ser.
Não há tecido social que suporte isso.
No dia 7 de Setembro Bolsonaro ultrapassou todos os limites do aceitável, mesmo para uma nação de sapos fervidos como a nossa. Um homem que declara com todas as letras que não vai obedecer a lei não está apto para governar, ponto.
O que ele propõe é sedição, o que ele comete é traição.
Ele só teve coragem de chegar até aqui porque Brasília é cúmplice e as elites do país são coniventes: temos um Napoleão de hospício na presidência e todo mundo faz de conta que isso é normal.
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