Só isto explica que, de um momento para outro, tenha começado a surgir uma certa unanimidade face à necessidade de criar taxas para os mais ricos, de forma a financiar a recuperação económica. Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a solução passa por criar um “imposto de solidariedade ou sobre a riqueza, para aqueles que lucraram durante a pandemia, para reduzir as desigualdades extremas”.
A proposta de Guterres surgiu poucos dias depois do apelo feito pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, para um acordo global sobre uma taxa mínima de imposto para as empresas, independentemente do país em que têm a sua sede, como forma de financiar os Estados. Uma ideia que foi também imediatamente aplaudida pelo FMI que, através da sua economista-chefe, Gita Gopinath, salientou a necessidade de se criar mecanismos que evitem a diminuição crescente das receitas fiscais, num momento em que os Estados aumentam a despesa pública para responder ao desafio sanitário e, ao mesmo tempo, endividam-se para responder ao apoio social a todos os setores atingidos pela pandemia.
Percebe-se a preocupação que, em certos momentos, começa a tomar já proporções de quase pânico: segundo os cálculos de três reputados economistas (Joseph E. Stiglitz, Todd N. Tucker e Gabriel Zucman), não só as multinacionais transferem, hoje, cerca de 40% dos seus lucros para países com impostos baixos em todo o mundo como a própria receita fiscal encolheu quase 4% nos EUA, nas últimas duas décadas – “um declínio único na História moderna das nações ricas”.
A pandemia veio demonstrar, de forma clara e trágica, os riscos de Estados fracos ou fragilizados: os serviços básicos não conseguem dar resposta, a ausência de infraestruturas torna-se gritante e a pressão social conduz, inevitavelmente, à revolta e ao desespero. Só há uma maneira de o evitar: com mais dinheiro. Agora só é preciso ir buscá-lo a quem o tem de sobra. Parece que já ninguém tem dúvidas sobre isso.
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