quinta-feira, 11 de março de 2021

Bolsonaro, as vacinas e a covid: Entre a eugenia e a Israel imaginária

Muito já se falou sobre a posição reticente que o governo Bolsonaro tem em relação ao combate a pandemia. Inclusive nesta coluna já escrevi mais de uma vez sobre isso. Acredito, entretanto, que essa semana tivemos novos e importantes desdobramentos quando o presidente se referiu a um suposto remédio desenvolvido em Israel.

Importante lembrar, inicialmente Bolsonaro se esforçava por ignorar a gravidade da doença. Em determinados momentos ele chegou a trata-la de “gripezinha”, dizendo que quem tivesse preparo físico (“histórico de atleta”) não seria afetado. Depois disso, passava a lançar remédios milagrosos e sem nenhuma comprovação científica. Fazia isso no suposto intuito de combater a pandemia de “forma preventiva”. Logo, Bolsonaro iria estabelecer uma relação entre o espalhamento da Covid e supostos interesses geopolíticos do imperialismo chinês. Tendo chegado, inclusive, a enfrentar o diplomatas da china no Brasil.

Ultimamente, entretanto, é a posição do presidente em relação às vacinas que tem chamado mais atenção. Ela é fundamental para se entender a política do governo brasileiro no que diz respeito ao combate ao Novo Corona Vírus. É um erro crasso acreditar que a política bolsonarista em relação a pandemia não passa por questões ideológicas. Ao contrário, tudo ali está absolutamente crivado de ideologia e política.


Quando confrontado com as vitimas fatais da pandemia, o presidente do Brasil não demonstra interesse e as desqualifica. Ao dizer a frase “E eu com isso?” (respondendo ao número de mortos) ou a reagir a uma pergunta sobre as vítimas da pandemia afirmando que não é “coveiro”, o capitão não é apenas grosseiro, desumano e mal educado, ele segue um script estritamente ideológico. Nada ali era casual.

Acima percebemos reações típicas de alguém que investe na doença como um teste da seleção natural. Bolsonaro pode não saber, mas ele age como um darwinista social típico. Na sua perspectiva, os fortes sobrevivem, passam pela doença como se fosse ela apenas uma “gripezinha”. Enquanto que os fracos morrem, ou choram pelos mortos. Um discurso eugênico claro. Para o presidente, não se pode parar jamais, a hora é de avançar, não de chorar pelos mortos. Morram quantos morram. Aqui a falta de sensibilidade do capitão é ideológica e profundamente política.

A mesma questão surge quando Bolsonaro tira da cartola os já citados remédios milagrosos. Manter as pessoas a trabalhar e a tomar remédios são referências típicas de um capitalismo que desconsidera qualquer concessão ao social. Um ultraliberalsimo radical que se estabelece a partir do lucro exacerbado e da produção de desigualdades. Os que tem que sair para trabalhar não podem ser impedidos pela pandemia e pelo risco da morte. Claro, a letalidade e as internações aparecem reproduzindo as desigualdades do país. Mas, diria o presidente, é assim mesmo, “todo mundo morre um dia”.

Além da questão econômica, representada em um setor do governo, há outra referência ideológica na produção milagrosa de remédios para o tal “tratamento precoce” que de fato não existe. Bolsonaro atua como um santo milagreiro, o próprio messias. É ele que trará a cura. Seja a cloroquina ou um vermicida, o presidente se arvora em conhecer os segredos da doença. Aqui, há um flerte típico com o fundamentalismo religioso. Onde a cura surge através de fórmulas mágicas e emplastros milagrosos. Isso tudo é bem visto e estimulado por pastores e outros líderes religiosos.

Bolsonro não cria nada, ao contrário, ele aproveita o que já existe e produz politica.

A mesma linha pode se perceber na oposição perene as vacinas. O presidente chegou a dizer que não compraria nenhuma delas quando se iniciou a produção industrial dos imunizantes. A justificativa: ele não queria “que o povo fosse usado de cobaia”.

Ignorando o esforço científico e o desenvolvimento tecnológico, Bolsonaro tentava se mostrar preocupado com a saúde das pessoas. Afinal, elas podiam “virar jacarés”. É bobagem achar que isso era simples devaneio de um louco afetado pelos poder. Em tais falas do presidente também há fortes referências políticas ideológicas.

Vacinas são o símbolo mais acabado da democratização da saúde publica. A ideia de que a ciência poderia produzir distribuição igual a todos e todas para que pudessem se ver livres de vírus e doenças antigas assusta a qualquer darwinista social.

Bolsonaro faz parte de uma extrema direita homicida e suicida, que prefere a morte à luta pela vida. As vacinas representam a vida. O Presidente só pode ser contra, e, como vemos, ele e tenta boicotar quaisquer tentativas de imunização em massa, fazendo avançar uma agente higienista e eugênica que as vacinas ameaçam.

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