quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O sonho da pátria armada

O deputado federal Eduardo Bolsonaro usou as redes sociais no domingo para decretar que “o tiro também é cultura”. Só faltou completar: em vez de livro, por que não um fuzil? Na postagem, o parlamentar se referiu à visita que fez ao Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Distrito Federal, onde teve aula de tiro ao alvo, acompanhado do secretário especial de Cultura do Ministério do Turismo, Mario Frias, e do secretário nacional de incentivo e fomento à cultura, André Porciúncula.

Depois do treinamento, ele e seus companheiros, todos armados de revólver e fuzil, posaram ao lado da imagem de uma caveira, símbolo do batalhão e, por extensão, da cultura como o Zero Três a vê. Filho e pai são defensores do liberou geral, da flexibilização das leis sobre o porte e a posse de arma, e os dois fizeram do tema promessa de campanha. A novidade é o filho aparecer agora com esse disfarce, para dar a impressão de que atirar é um divertimento intelectual.



O pai sempre foi mais direto nas suas declarações, nunca escondeu seus objetivos, nunca disfarçou seu projeto ou sonho. Disse com todas as letras: “Eu quero todo mundo armado”, “Só um povo armado é forte e livre”, “Povo armado jamais será escravizado”.

A propósito, está sendo relançado o clássico “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury, sobre uma sociedade distópica em que os livros são proibidos. Mantê-los em casa é considerado crime, e os donos são punidos como criminosos. E a missão dos bombeiros não é apagar incêndios, mas atiçá-los. O 451 do título é a temperatura, em graus Fahrenheit, em que o papel pega fogo e queima.

Taí um livro que, se fossem chegados à leitura, Jair e Eduardo Zero Três deveriam ler e, se possível, entender que se trata de uma crítica ao obscurantismo.

Enquanto isso, a Amazônia e o Pantanal continuam pegando fogo.

No mais, é como se diz em Frei Paulo, terra do Ancelmo, sobre o que vem por aí: “God bless America e... a nós também”.

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