A direita brasileira já produziu grandes administradores como Carlos Lacerda (vindo da esquerda). Até o atraso deu ao país políticos notáveis, como Bernardo Pereira de Vasconcelos no Império. Ele foi à tribuna do Senado em abril de 1850 para dizer que havia “terror demasiado” em relação à epidemia de febre amarela. Morreu uma semana depois, de febre amarela.
No segundo turno da eleição de 2018 o candidato Jair Bolsonaro teve 58 milhões de votos. Ali estavam eleitores que simplesmente não queriam a volta do PT ao Planalto e também conservadores que acompanhavam a vaga agenda do candidato. Era o jogo jogado. No dia 1º de janeiro de 2019, feliz, esse eleitorado ganhou Sergio Moro no Ministério da Justiça. No pacote estavam também a contabilidade de Fabrício Queiroz, os delírios do chanceler Ernesto Araújo e, meses depois, os de Abraham Weintraub.
Essa paçoca não é conservadora, nem de direita, sequer atrasada, é chumbrega, inepta. Pretende ser um governo com militares, quando é acima de tudo um governo com uma milícia desconexa. Orgulha-se de ter equipado sua cúpula com generais e nomeia para o Ministério da Educação um doutor de titulação forçada por baixo de cuja mesa, na atual administração, passou um edital viciado de R$ 3 bilhões. No século passado Carlos Lacerda dizia que o Serviço Nacional de Informações não funcionava às segundas-feiras porque naquele dia não circulavam os jornais matutinos. O Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro não consulta os relatórios da CGU.
Decotelli não foi o primeiro hierarca a inflar currículo. Dilma Rousseff nunca concluiu seu doutorado na Universidade de Campinas, e o governador Wilson Witzel jamais teve vínculo com Harvard. Contudo, o doutor exagerou: sua dissertação de mestrado tinha indícios de plágio, o doutorado argentino e o pós-doutorado alemão não haviam sido concluídos.
Para quem viu a passagem pela administração pública de grandes conservadores, muitos direitistas e até mesmo alguns ilustres representantes do atraso, só resta parodiar os versos de Casimiro de Abreu:
“Oh, que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha direita querida/Que os anos não trazem mais”.
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