Gustavo Bebianno envelheceu rapidamente desde sua ascensão e queda meteóricas no governo de Jair Bolsonaro. Era só um fã, um outsider político, quando participou de uma sessão de fotografias do então candidato a presidente da República pelo nanico Patriota. Bebianno foi um voluntário dedicado, acreditava no capitão. Foi decisivo na mudança de Bolsonaro para o PSL. Coordenou a campanha.
O ex-professor de artes marciais, que chegou a ter 100 alunos em Miami, virou presidente interino do PSL e, com a vitória de Bolsonaro, foi catapultado para ministro da secretaria-geral da Presidência. Mas cometeu o sumo pecado de brigar com Carlos Bolsonaro, que o atiçava diariamente pelas redes sociais, ciumento da influência de Bebianno como braço direito do pai. Carlos acusava Bebianno de ser pivô da crise dentro do PSL, envolvido em denúncias de uso de candidaturas laranjas.
Bebianno reclamou de Carluxo publicamente: “Roupa suja se lava em casa”. Eduardo tomou as dores do irmão e dias depois Bebianno era chutado para fora do governo. Primeiro ministro a ser exonerado em fevereiro de 2019. “Por questão de foro íntimo”, disse Bolsonaro. Saiu do PSL quatro meses após ser demitido do governo. Segundo o próprio Bebianno, ele tinha sido demitido "pelos filhos do presidente".
Foi um mata-leão. Bebianno conhecia bem esse golpe. Aplicado pelas costas, o mata-leão no jiu-jitsu é um estrangulamento. O competidor passa um braço por baixo do pescoço e segura no bíceps do outro braço. De fã, Bebianno passou a adversário do presidente. Em dezembro do ano passado, já no PSDB, alertava para “o grau de loucura e irresponsabilidade” de Bolsonaro. Chamava Eduardo e Carlos de “debiloides”.
Conversei com um amigo pessoal de Bebianno, Milton Kohn, que, às 23h40min de ontem, falava com ele ao telefone. "Às 4h da manhã, meu amigo foi embora. Era um homem de 1,90m, um cavalo de tão forte, estava cheio de disposição para melhorar esse Rio avacalhado e abandonado. Bebianno foi o braço direito e esquerdo de Bolsonaro. Foi advogado, foi secretário. Horrível a forma como foi mandado embora. Ele me dizia: 'Milton, esses filhos do Bolsonaro nunca viajaram com a gente na campanha, nós dormíamos no chão'. O Carlos tinha muito ciúme da ascendência do Bebianno sobre o pai. Sinto uma tristeza imensa. Nossas conversas eram só de saúde, acho que ele não tinha noção de que sofria de problemas cardíacos. Esse jogo político fez muito mal a ele e certamente prejudicou sua saúde. Era uma pessoa séria, com uma família linda, e gostava de ficar em seu sítio, quieto, cuidando de suas ações na Bolsa, que conhecia a fundo. Será enterrado lá".
O governador de São Paulo, João Doria, padrinho-mor que o lançou agora em março pré-candidato à prefeitura no Rio de Janeiro pelo PSDB, disse em dezembro de 2019 que o passado de Bebianno tinha sido “não um erro, mas um aprendizado”. O PSDB estava rachado com o anúncio da pré-candidatura de Bebianno a prefeito do Rio.
Não sei que aprendizado de vida é esse, que entope uma pessoa de mágoas e a confronta com disputas, brigas, inimizades. Quem sabe Bebianno estivesse vivo e feliz se continuasse envolvido com artes marciais e não com o jogo sujo da política, com golpes baixos duros de engolir. O tatame do jiu-jitsu era mais saudável. A competição, mais previsível.
Agora, após a morte repentina do ex-ministro de Bolsonaro, o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, afirmou que Bebianno deu “sua parcela de cidadão e patriota”.
Imolar-se a favor ou contra Bolsonaro (ou qualquer político) não pode valer a pena. Cada um de nós deve pensar o que é melhor para sua vida íntima. Em que momento devemos abandonar um ringue pesado e jogar a toalha para buscar caminhos mais prazerosos na vida. Ambições e amargura podem nos levar a um caminho sem volta. O coração pode simplesmente não aguentar.
Ruth de Aquino
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