quinta-feira, 19 de setembro de 2019

É preciso proteger a natureza

O Brasil poderia ser aplaudido de pé e não correr o risco de vaias na Cimeira da Ação Climática, na ONU, próxima segunda feira, caso conhecimento e bom senso orientassem determinados integrantes do governo Bolsonaro. O milagre se materializaria se apresentassem ao mundo muito mais do que um Exército especializado em combate na selva, como sugeriu o professor de Direito Universidade de Lisboa, Carlos Blanco de Morais, renunciando a teses olavistas para se aliar aos países civilizados empenhados em travar a crise ambiental.

Mas há portugueses e portugueses. O presidente da ONU, o português Antônio Guterres, disse que todos sabemos o que tem de ser feito pois as provas científicas são evidentes.” Esta é a batalha das nossas vidas”, declarou. E outro português, o Presidente da Fundação Oceano Azul,Tiago Pitta e Cunha, brilhou no último final de semana, durante a conferência “ O Futuro do Planeta” , organizada pela instituição que dirige em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, apresentando ideias nada bélicas e sem se referir aos defensores da bala como recurso para afirmar a soberania das suas florestas .

Tiago Pitta não acredita na força das armas para deter, quem sabe reverter, o aumento dos problemas climáticos. Ele defende que o problema pode ser enfrentado com a adoção de um modelo econômico que atribua efetivamente valor econômico à natureza. Se a natureza fosse tratada com o maior capital do futuro, naturalmente seria protegida de agressões e não explorada como uma fábrica que não para de produzir.

Enquanto no Brasil, o presidente Bolsonaro e ministros desperdiçam tempo e energia com conversas nada republicanas sobre a mulher alheia, se mais bonita, feias ou mais jovem, o mundo civilizado concentra-se no fundamental para a humanidade. Ernesto Araújo e Ricardo Sales Moraes recusam a existência da crise ambiental, investindo contra o que chamam de “climatismo”. Desmentem-se e censuram-se informações verídicas de conceituados órgãos, nacionais e internacionais, enquanto o país se descredibiliza-se perante o mundo.

Puro retrocesso e na contramão do que ocorre em outras nações, onde estudiosos, ambientalistas, associações, fundações, ONGs e especialistas no assunto tratam com a devida atenção, seriedade, cautela e respeito os bens da natureza sem que por isso sejam perseguidos e acusados de fanatismo pelos seus governos.

Com uma organização impecável e os 888 lugares da plateia do Teatro Camões ocupados, sobretudo pelos mais jovens, que são os que mais se movimentam contra os crimes ambientais ,50 conferencistas sucederam-se no palco durante dois dias. Foram apresentados estudos, documentários, informações e dados demonstrando que, se nada for feito, os termômetros não pararão de subir, aquecendo oceanos, causando secas, incêndios nas florestas, inundações, furacões e tempestades, causando mais mortes, dor e sofrimento.

A decana mundialmente respeitada, Sylvia Earle, bióloga e exploradora subaquática, propôs, por exemplo, a criação de áreas marítimas protegidas que assegurem a adaptação das espécies às mudanças climáticas. Milhares já desapareceram. Já o diplomata e ex-secretário de Estado do Governo Obama, John Terry, à semelhança de Guterres, advertiu que a luta contra as alterações climáticas e proteção do planeta é a da nossa própria sobrevivência.

A discussão sobre o futuro do planeta não pode ser vista como ideologia ou rancor das esquerdas como tenta fazer crer o presidente Bolsonaro. No mundo dos que pensam, estudam, pesquisam, leem e fazem ciência, representa um questionamento global sobre a atuação do ser humano com relação à natureza. É preciso indagar como chegamos até aqui, criando problemas que só aumentam e que muitos líderes e governantes não sabem como lidar. Por causa disso, alguns apelam para panfletismos que não convencem às pessoas informadas.

Em meios às tragédias, uma boa noticia. O projeto Covering Climate Now, que, em parceria com a revista norte-americana The Nation e o jornal britânico The Guardian, reúne 250 órgãos de comunicação social – jornais,revistas,televisões , rádios bloques,podcasts -espalhados pelo mundo-estarão unidos para uma publicação intensiva de trabalhos sobre alterações climáticas ao longo da semana que antecede a Cimeira para a Ação Climática ,da ONU,próximo dia 23.

Os fundadores do projeto, os jornalistas norte-americanos Mark Hertsgaard e Kyle Pope, estão entusiasmados pois acreditam que nenhum outro problema coloca mais desafios e ao mesmo tempo mais oportunidades. A experiência é inédita e deve alcançar cerca de milhões de pessoas. O objetivo das iniciativas, liderada pela Columbia Journalism Review, é incentivar redações em todo o mundo a aprofundar a cobertura climática, tornando-a mais próxima dos leitores, ouvintes e espectadores. Quem sabe a imprensa brasileira ultrapassa a cobertura da família Lero Lero para se dedicar ao que importa. Antes tarde do que nunca.

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