terça-feira, 8 de agosto de 2017

América Latina se recupera, mas sem criar empregos

Uma boa e uma má notícia para a América Latina. Depois de dois anos de recessão, o Produto Interno Bruto (PIB) da região crescerá 1,1% no fechamento de 2017. A recuperação será motivada por um aumento do comércio mundial, uma melhora nos preços das matérias-primas e uma baixa volatilidade financeira nos mercados internacionais, segundo as mais recentes previsões da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). A saída do buraco, no entanto, é inócua para a criação de empregos. A taxa de desemprego urbano, que continua crescente desde 2014, chegará ao nível recorde de 9,4% ao final deste ano, depois de ter alcançado 8,9% em 2016. A cifra se traduz em 23 milhões de desempregados nas cidades, em um continente com mais de 512 milhões de habitantes, quase 50% deles com um trabalho na informalidade.

“A situação dos mercados de trabalho na região é grave. Estamos ante as taxas de desocupação mais altas em uma década”, afirma José Manuel Salazar Xirinachs, diretor do escritório regional da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para América Latina e Caribe. De acordo com o representante da instituição internacional, o desemprego total (rural mais urbano) na região foi de 8,1% em 2016 (25 milhões de pessoas). Estima-se que aumentará para 8,4% em 2017 (26 milhões). “A recuperação tem sido insuficiente para reverter o aumento do desemprego”, disse Alicia Bárcenas, secretária-geral da Cepal, durante a apresentação das perspectivas econômicas da região, nesta semana.

Para além de Dilma: Por que o desemprego no Brasil aumentará ainda mais nesta década    http://www.brasilpost.com.br/2016/04/29/desemprego-vai-aumentar_n_9811278.html?ir=Brazil
“Essa é apenas a ponta do iceberg”, afirma Salazar Xirinachs. Na região, 47% dos trabalhadores ocupados, cerca de 134 milhões de pessoas, o fazem na informalidade, com baixa produtividade e sem direitos trabalhistas nem proteção social. O desemprego entre os jovens, por sua vez, é de 18%, o que significa que quase 1 de cada 5 jovens latino-americanos está desempregado. Além disso, diminuiu o emprego assalariado e aumentou o trabalho por conta própria, dois indicadores da deterioração na qualidade do trabalho. Apesar de a recuperação econômica representar uma melhora indiscutível, diz o representante da OIT, ainda está longe de diminuir a piora no mercado de trabalho da região, onde o Brasil é quem mais sofre.

O país – que após dois anos de contração do PIB terá avanço de 0,4% em 2017 – registra um grande prejuízo no número de pessoas empregadas. No ano passado, a taxa de desemprego chegou a seu maior nível na última década, com 13% de sua população desempregada. Durante o primeiro trimestre do atual exercício, o número de desocupados subiu para cerca de 14 milhões de pessoas (uma taxa de 13,7%). A América Latina, sem dúvidas, tem sido arrastada pelo Brasil, afirma Alfredo Coutiño, diretor da Moody´s para a região. O Brasil, afetado por uma crise política e institucional, registrou sua maior recessão nos últimos 24 anos, com oito trimestres consecutivos de queda do PIB, segundo o especialista.

Apesar da luz no fim do túnel este ano, o especialista da agência de classificação de risco afirma que repor os trabalhos perdidos na região levará tempo. “A região passou de dois anos de recessão a um crescimento econômico pobre em 2017”, afirma o especialista da Moody´s, que inclusive prevê um cenário não tão positivo no encerramento do atual exercício. O aumento do PIB poderia ficar abaixo de 1%, o que impediria a geração de empregos adicionais, afirma. Para que o número de desempregados pare de aumentar, segundo o analista, a economia precisaria apresentar taxas sustentadas de ao menos 4% nos próximos anos, do contrário a sangria continuará.

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