O impeachment de Dilma Rousseff deveria ser o fim de um período turbulento e o início de consenso para construir a governabilidade fundada nos preceitos constitucionais. Eles seriam defendidos, diuturnamente, por aliados do presidente no Congresso Nacional fiscalizados por oposição incisiva, mas serena e responsável em relação ao destino de 206 milhões de brasileiros. Parece que isso não acontecerá, porque facções da base governista solaparam a Constituição, e os ânimos do grupo destituído do poder estão acirrados. Fica para a população todo o ônus de mais uma turbulência política que repercutirá no desenvolvimento econômico e nas ações governamentais indispensáveis a todos.
Teremos, então, mais uma vez, apenas uma festa do Estado, em que militares desfilam diante de autoridades protegidas por forte esquema de segurança, enquanto o povo fica atrás do cordão de isolamento. Isso sempre esmaeceu a identidade do cidadão comum diante dos governantes, registrando a distância entre eles e comprometendo a percepção de cidadania, com separação entre o mundo oficial e o social.
Assistiremos, então, mais uma vez, passivamente, àquele espetáculo, sem celebrar nossa nacionalidade. Isso não nos favorece, porque as fronteiras nacionais sustentam a soberania de um povo e vão além da demarcação de território, uma vez que se referem à dimensão humana que se sobrepõe à infraestrutura material. São delineadas pelo reconhecimento de cada indivíduo como membro de um grupo que almeja convivência pacífica, autonomia política e desenvolvimento integrado, esperando bastante do futuro.
Gilda de Castro
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