terça-feira, 22 de março de 2016

Por onde anda a brasilidade?

A língua portuguesa, com a sua extraordinária riqueza, permite que determinadas frases possam ter vários significados e servir simultaneamente para a defesa ou para o combate à certas situações. Assim é com o “não vai ter golpe”, bordão utilizado por alguns, aqui e alhures.

É preciso ter claro que os golpes não são fruto apenas do uso da força por militares ou milícias, como aconteceu historicamente na América Latina e na África.

Os golpes surgem também da propaganda enganosa, da utilização do poder econômico de um governo, ou do poder político, para gerar medidas de incentivos e desonerações que dão a falsa impressão de ações de inclusão, mas que geram desajustes fiscais e levam os países à retração financeira, à inflação desmedida, ao desequilíbrio e, consequentemente, à retirada dos avanços que pareciam permanentes, mas somente sobreviveram ao período eleitoral.


Ele também decorre do descumprimento dos princípios éticos que devem nortear as nações democráticas. Governos que usaram tais artifícios, em toda a história, acabaram por se enredar na teia de mentiras, perderam a sua capacidade e se autodestruíram.

Logo surgem as desculpas, quase sempre um conto de fadas, de uma crise internacional inexistente, para tentar explicar porque a esperança de mais educação, saúde, saneamento e habitação dissolveu-se, perdida nos meandros de um rio caudaloso de erros. Tudo desemboca no desabamento dos índices da economia.

Não existem propostas de recuperação, simplesmente porque não há como efetivá-las, já que faltam pessoas qualificadas, ou planos adequados, e também capacidade de aglutinar as correntes políticas diferentes, protagonistas das democracias, em torno de um projeto de nação.

O resultado é evidente e o desemprego logo se agiganta, o setor produtivo deixa de responder e a sociedade assiste estarrecida o caminhar sem rumo numa grande floresta, sem uma bússola.

A situação se agrava ainda mais quando alguns, acusados e suspeitos, procuram as mais diversas formas de blindagem da justiça, parte sempre presente nas sociedades democráticas.

Outro refrão que vem sendo usado, na nossa e noutras terras, é “somos nós contra eles” que, aliás, é o mote de campanha de um dos candidatos ao governo dos Estados Unidos, e um legítimo porta-voz do atraso, da reação e do sectarismo. Mas a história é como a natureza: sempre busca restaurar o equilíbrio e, por isso, não vai perdoá-los.

O mundo mudou muito depois da queda do muro de Berlim. Autodenominar-se de esquerda ou direita soa como ensinar geografia num globo terrestre dos anos 50. Ou seria um esforço para voltar aos tempos da revolução francesa?

Tenho saudades do Brasil quando era possível encontrar muitas lideranças políticas de alto valor. Foram elas que lutaram contra a ditadura, que tiveram a coragem de vir às ruas defender as “diretas já”, e que jamais deixaram de honrar seus compromissos.

Quem não se lembra, ou não ouviu falar dos palanques onde, lado a lado, estavam o Ulysses, o Teotônio Vilela, Miguel Arraes, Brizola, Fernando Henrique, o velho Tancredo, Sobral Pinto, o Lula, o Marcos Freire, o Jarbas Vasconcelos, o Barbosa Lima Sobrinho, e tantos outros?

A brasilidade de cada um estava acima das respectivas ideologias. Infelizmente, homens desse calibre ficaram mais raros. Muitos, quase todos, faleceram. Alguns ainda nos alimentam com a sabedoria, o pensamento acadêmico e a defesa da sociedade democrática.

Outros acabaram seguindo caminhos diferentes na vida política e esqueceram ou deixaram para trás seus princípios e ideais. Por isso, devemos ter cuidado com aqueles, de qualquer geração, que são avessos à honra, pois eles irão comprometer o futuro do país.

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