As suspeitas que pesavam sobre Lula e Dilma já não são meras suspeitas. Ganharam materialidade na voz de alguém que privou da intimidade e da confiança de ambos, cumprindo missões que agora revela. A rigor, quem acompanha de perto as investigações – na imprensa, na polícia, no Congresso – não teve qualquer surpresa.
Nenhum dos fatos arrolados era desconhecido. Muitos já haviam sido noticiados, com base em fontes que se mantinham anônimas. O impacto e a novidade ficam por conta de agora terem um informante que, longe de ser mero observador privilegiado, era um agente, cujo depoimento equivale a uma confissão, o que, no direito, é também chamada de rainha das provas.
Seu papel, nesse processo, é semelhante ao de Roberto Jefferson no Mensalão. Com agravantes: era o líder do governo, a voz da presidente no Senado. Jefferson era personagem periférico no Mensalão, presidente de um partido da base, o PTB, que se queixava exatamente do tratamento secundário que recebia.
Delcídio, não. Era, no Congresso, o próprio governo e também o elo entre Dilma e Lula, com os quais mantinha contatos quase diários. Ao abordar o filho de Nestor Cerveró, propor-lhe um plano de fuga e oferecer mesada – empreitada que o levou à cadeia -, Delcídio disse que cumpria missão a mando de Lula. Terá oportunidade de demonstrá-lo com mais dados.
O argumento do governo, expresso pelo ex-ministro da Justiça e novo advogado geral da União, José Eduardo Cardoso, de que Delcídio não tem credibilidade e está apenas querendo se vingar, é frágil. Pior: burro. Primeiro: se não tem credibilidade, por que era líder do governo? Segundo: numa delação premiada – que, se falsa, aumenta a pena do réu -, não há espaço para leviandades.
Colocar em dúvida a existência da delação de Delcídio dispensa comentários. Todos sabem que existe, carecendo apenas de homologação pelo STF – que, agora, diante do que já provocou, dificilmente a rejeitará. Se o fizer, aprofundará o seu descrédito.
As revelações, seguidas pela condução coercitiva de Lula a um depoimento que se empenhava em evitar, sugerem que as manifestações do próximo dia 13 devem superar as anteriores.
A militância do PT – ruidosa, agressiva, insensata – é numericamente inexpressiva. Não reflete nem de longe a sociedade brasileira. Consegue se fazer presente com agilidade, a qualquer dia ou hora, nos locais estratégicos, porque vive disso. Não trabalha em outra coisa. São profissionais do protesto.
Mas as pesquisas demonstram reiteradamente que a imensa maioria da população – na escala dos 90% - exige que as investigações se aprofundem e justiça seja feita com rigor, seja lá quem esteja em pauta: Lula, Dilma ou o mais obscuro lobista.
O PT alega que a Lava Jato estaria agindo politicamente. O que se dá é o contrário: os políticos do governo é que estão, há anos, agindo criminosamente, a ponto de transformar a análise política em criptografia policial. Não se trata de ideologia: crime não é de direita ou de esquerda – é crime. E o partido que o promove e oculta merece o título de organização criminosa, máfia em estado pleno.
Prova disso é que, até aqui, o empenho do governo e de seu partido – Lula à frente – não foi o de se defender, mas o de evitar a Justiça, obstruindo-a e cancelando depoimentos, recorrendo aos mais diversos e sórdidos ardis processuais. Quem deve, teme.
O argumento do líder do PT, José Guimarães, de que Lula jamais se recusou a depor - e que, portanto, a coerção não era necessária -, é falso. Na festa dos 36 anos do PT, Lula disse que não iria depor de maneira nenhuma. E acusou a Polícia Federal, a Justiça e a imprensa, dando palavras de ordem à militância.
Tão espantoso quanto tudo isso é a reação frouxa, intimidada (quase solidária) da oposição, sobretudo do PSDB.
A sociedade está mobilizada, há uma manifestação nacional prevista para daqui a uma semana, revelam-se denúncias gravíssimas de um ex-líder do governo – que, em circunstâncias normais imporiam a deposição da presidente - e a oposição age como quem tem dúvidas. Em vez de ir às ruas, fecha-se, intimidada, em gabinetes. O PT mobiliza seus diretórios e organizações que sustenta (CUT, MST, MTST, UNE etc.) com dinheiro público para que ocupem as ruas e promovam badernas. E a oposição faz o quê? Aguarda.
O líder tucano Cássio Cunha Lima diz que “não vai sapatear sobre o governo”, mesmo sabendo que o governo, rodeado de indícios consistentes de que praticou crimes, não tem feito outra coisa sobre a sociedade. Com isso, apenas dá substância às insinuações do PT, de que tem também o que ocultar. Terá?
O bordel está em pânico. A festa, ao que parece, acabou.
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