O primeiro artefato foi a divulgação, pela revista Isto É, de trechos da delação premiada que o senador Delcídio Amaral negocia com a justiça, onde relata a participação de dois maiores protagonistas do PT nos casos da compra da refinaria Pasadena, pagamentos à família de Cerveró e compra do silêncio de Marcos Valério, operador do mensalão.
O segundo explosivo é esta 24ª. fase da Operação Lava Jato, de nome Aletheia ( Busca da Verdade), que tira Lula de sua casa para prestar depoimentos sobre os negócios envolvendo sua empresa, LILS Palestras, o Instituto Lula, o tríplex do Guarujá, o sítio em Atibaia e eventuais conexões com cinco empreiteiras.
O senador pinça, ainda, a Ação Penal 470, para dizer que o ex-presidente manobrou para comprar o silêncio do ex-operador do mensalão, o publicitário Marcos Valério, que teria pedido de R$ 220 milhões para ficar de bico calado. (Diz-se que se conformou com menos no arranjo financeiro feito pelo ex-ministro da Fazenda, Antonio Palloci).
Como se pode aduzir, a delação do senador Delcídio, que aguarda homologação pelo ministro Teori Zavascki, do STF, mesmo sob a forma de roteiro, mostra potencial para ser o fato de maior impacto da Operação Lava Jato.
Afável e respeitado, o senador sul mato-grossense goza de prestígio junto aos pares, a ponto de ter sido escolhido pela presidente Dilma para ser líder do Governo no Senado. Nos últimos tempos, comandava a poderosa Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).
Amigo de Lula, com quem conversava frequentemente, Delcídio é uma das maiores fontes de informações e segredos sobre as veredas do Planalto. Pois este “sabe tudo” decidiu entrar no jogo da delação premiada para aliviar o peso de eventual condenação pelo Supremo.
Não se trata de pessoa que perdeu a credibilidade, conforme a desconstrução de seu perfil que governistas tentam fazer. A nota em que o senador e seu advogado dizem não reconhecer trechos pinçados pela revista Isto É deve ser entendida como uma carta de seguro, na medida em que ainda não foi oficializada.
A Aletheia, abrigando 44 mandados judiciais, sendo 33 de busca e apreensão e outros 11 de condução coercitiva, incluindo Lula e seu filho Fábio Luis Lula da Silva, mesmo não tendo relação com a delação de Delcídio, se soma ao repertório de eventos negativos que se abatem sobre as principais figuras do governo e do PT, fornecendo munição para acirrar a luta política e o ânimo social. Analisemos alternativas que poderão advir a partir destas duas explosões.
O impeachment, como se sabe, iniciara uma descida no terreno das probabilidades. A delação de Delcídio puxa a ideia para o centro do debate político. Ele terá de comprovar o que disser, até para se apurar a extensão de eventuais sinais de vingança por se sentir abandonado pelos próceres petistas.
Mesmo considerando as idas e vindas que ocorrem num processo de impeachment (oitivas, recursos de apelação etc) trata-se de alternativa que ganha força. Mas o caminho da decisão passa pelo clamor das turbas. O dia 13 de março será um termômetro importante para aferirmos a temperatura social. Já a renúncia é hipótese descartada, tendo em vista a índole de auto-suficiência da presidente Dilma.
Já a busca de verdade no entorno do ex-presidente, com depoimentos e mandados de apreensão que ganharão ampla visibilidade, corroerá ainda mais os costados de Lula. Se houver prisão (dele ou de filhos), o incêndio chegará às alturas. Os eventos dessa fase da Lava Jato mancharão a imagem da presidente, contribuindo para desgastar a imagem da pupila.
O impedimento da presidente, decisão de cunho político, correria mais rápido que o percurso da análise de contas no âmbito do TSE. Nesse Tribunal, o affaire entraria no próximo ano, com a possibilidade de se ter a separação de contas entre as campanhas da titular e do vice.
A permanência de Dilma se apresenta também como hipótese viável, com o agravante de que seu governo seria um dândi na escuridão. Perdido e sem rumo. Jorrando sangue por todos os lados, perderia todas as forças. Cenário devastador na economia, paisagem caótica na seara social, guerra de guerrilhas na arena política, onde o lema seria: salve-se quem puder. Some-se a essas visões catastróficas a moldura da Câmara sem o comando de Eduardo Cunha, afastado da presidência pelo STF.
O pedido de afastamento, feito pelo Procurador Geral, Rodrigo Janot, deverá ser analisado pelo plenário da Corte. Mas o STF não tem tanta certeza de que este pode ser o rumo. Teme entrar no terreno do Legislativo. Enquanto isso, o Conselho de Ética dará encaminhamento ao pedido de cassação de Cunha. Se aprová-la, a decisão irá ao plenário, onde o deputado conserva grande parcela de aliados.
A equação do impeachment dependerá sempre do volume das ruas. Os números das multidões, por sua vez, inflarão ou murcharão nas ondas das marés alta e baixa, a primeira apontando para o bolso cheio, a segunda para o bolso vazio. Ora, a economia não melhorará nos próximos meses. Ou melhor, pode haver recuperação sob a égide de outro governante. Basta ver o movimento das bolsas nesses últimos dias.
Cresceu quase 10% com o perigo se aproximando de Dilma e Lula. Por último, resta acompanhar a estratégia traçada pelo PT para defender Luiz Inácio: mobilização da militância, enxurrada vermelha, slogans e palavras de ordem (“não vai haver golpe”), confrontos físicos, grupinhos de professores expressando “defesa da democracia” etc. Tudo sob o olhar aparvalhado do novo ministro da Justiça, Wellington César, que teria sido escolhido para “administrar a independência” da Polícia Federal.
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