sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Um tipo de gente indignada que eu não entendo

Eu bem que tento, mas não consigo entender essas pessoas que vivem horrorizadas com os termos ditos ofensivos mas se calam diante das violências mais óbvias.

Estou falando, claro, de todas essas pessoas que gostam de denunciar piadas de mau gosto e propagandas infelizes - de todo esse grupo que diariamente esfrega na cara dos outros os termos feios que não devemos usar, mas no instante em que se vê diante de uma violência mais óbvia, como um roubo ou um homicídio triplamente qualificado, desaparece da discussão.

Estou falando de um tipo específico que vive acusando os outros de fazerem “discurso de ódio” contra um político, que seja, enquanto ignora alegremente os índices grotescos de violência do país, até se desapontando um pouco quando um conhecido fala do assunto perto dele.

De onde vem isso? O que faz um sujeito se horrorizar com as palavras usadas para cantar mulheres na rua mas não com um assalto a mão armada? Confesso que me sinto um pouco confuso. Se você é sensível aos termos infames usados na rua - e que bom que você é -, certamente ficaria ainda mais horrorizado com um assalto, com a vida de alguém ameaçada, não? Se insiste que precisamos atualizar os termos ditos ofensivos, talvez lhe passe pela cabeça que um assalto é uma invasão muito mais agressiva. Então por que se calar diante desse tipo de violência?

Me parece que a tendência dessas pessoas é evitar reconhecer as violências mais óbvias. Está bem, todos temos preferências e escolhemos ideias e causas com as quais temos maior afinidade, coisa que entendo.

E eu aceitaria esse argumento se essas pessoas em questão denunciassem o que geralmente denunciam - aos chiliques e com os dentes à mostra - sem ignorar o resto. Por que se calam? Teria a ver com uma certa superioridade por não compartilhar das indignações mais óbvias? É isso?

Posso estar enganado, mas meu palpite é que esse tipo de gente passa a falar somente daquelas violências que causam um efeito de repulsa entre uns poucos, entre os seus - uma espécie de indignação hipster.

Ele se abala com uma piada grosseira ou uma propaganda cretina, sem dar a mínima para as violências mais óbvias. É especializado em driblar esses fatos. Diante de um crime tão evidente, como uma chacina em Osasco, não resiste à tentação de praticar a nobre arte do silêncio.

O perigo é que muitos já estão anestesiados por causa disso. E aberto o caminho para esta cegueira deliberada, os crimes avançam. Em meio a uma conspiração do silêncio, como propor soluções?

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