quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O sacrifício inevitável

A falta de qualquer resquício de constrangimento por parte do governo ao entregar uma proposta de orçamento deficitária para 2016 é inaceitável, porque demonstra a petulância de quem acha esse tipo de coisa normal, A situação pode ser explicada através de uma analogia com uma família, onde o governo encena o papel de chefe ou, ao menos, de provedor principal. Após passar o ano estourando os cartões de crédito, levando o cheque especial ao osso, acolhendo no quarto dos fundos o cunhado desempregado com sua família, pagando escola particular para os diversos filhos, fazendo as contas, mamãe Dilma descobriu junto com papai Nelson Barbosa que os salários que receberão no ano que vem não será suficiente para continuar vivendo em casa de classe média em bairro nobre, mas decidem permanecer no mesmo endereço, levando todo mundo para almoçar no shopping aos domingos depois do clube, e planejam continuar com os planos de férias em Miami, porque ninguém é de ferro. 

Isso sem levar em consideração que pode ser levantada uma bandeira roxa, ainda mais inclemente que a vermelha, para a conta de energia, porque pode não chover o suficiente para tirar as hidrelétricas do volume morto, elevando junto a conta da TV a cabo. A escola vai ficar mais cara, os livros escolares não poderão ser reaproveitados, o plano de saúde pode subir se a ANS alterar mais algumas regras em favor das operadoras, o índice de reajuste do aluguel vai acompanhar a nova fase hiperbólica da inflação, as frutas importadas e o bacalhau português para a ceia de Natal estarão ainda mais caros por causa da alta desenfreada e, aparentemente, inesperada do dólar. O carro, que ainda tem algumas prestações vencidas, já está andando só com o cheito de gasolina As roupas, que não crescem com as crianças, precisarão de substituição. É para isso que serve o cartão de crédito. E ainda tem os impostos...

Mas a governanta não muda o rumo da gestão, sua família não pode sofrer nenhum efeito da falta absoluta de controle, e o cartão de crédito junto com o cheque especial e os empréstimos, que sugam juros equivalentes a mais que essa família paga à empregada, não podem deixar de continuar oferecendo crédito fácil e soluções mirabolantes para reescalonamento de dívidas, senão só restará como solução fugir para algum paraíso inalcançável pelos credores..

A longevidade desse modelo de condução do Estado é bastante intrigante, considerando que demorou pouco mais que 3 mandatos para que finalmente a fatura da farra ficasse impossível de esconder. Enfim, foi apresentado ao país, através do projeto conduzido ao Congresso, um fato consumado, inteiramente inevitável, considerando tudo o que acontece sob as barbas dos integrantes do comando. Um orçamento deficitário, sem nenhum plano conhecido de correção do problema, constitui a definição de incompetência irresponsável por parte do governo. A partir do ano que vem, alguns grupos serão sacrificados de qualquer maneira, ou o governo começará a emitir cheques sem fundos para manter os beneficiários das diversas bolsas que sustentam um contingente maior que a população de alguns países bolivarianos.

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