quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Crônica do desastre

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O silêncio ensurdecedor do governo sobre o terrível resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano — queda de 1,9% ante os três meses anteriores — dá a dimensão dos erros cometidos pela presidente Dilma Rousseff na economia.

A perversa combinação de inflação alta, juros elevados, contas públicas em frangalhos, crédito escasso, corrosão da renda, desconfiança, desemprego e crise política não apenas destruiu o presente como comprometeu o futuro do país.

Para sair do atoleiro em que se encontra, o Brasil precisará de pelo menos três anos de políticas econômicas responsáveis. O difícil é acreditar que Dilma será capaz de fazê-lo.

O resultado do PIB é um desastre de qualquer ponto de vista que seja analisado. Motor do crescimento nos últimos anos, o consumo das famílias foi dilacerado pela carestia. Os consumidores foram obrigados a tirar itens essenciais do carrinho de supermercado porque o orçamento não comportava mais.

Parte da renda foi comprometida com o aumento das tarifas públicas, em especial, as da energia elétrica, que, na média, subiram mais de 50% neste ano. A corrosão do poder de compra está levando ao calote, que tende a se intensificar nos próximos meses, à medida que o desemprego for crescendo.

Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das famílias caiu pelo segundo trimestre consecutivo — 1,5% e 2,1%, respectivamente —, fato que não se via há mais de uma década. Como a inflação continuará rodando acima de 9% no acumulado de 12 meses até pelo menos abril do próximo ano, não há como acreditar em recuperação da demanda. Por isso, os analistas ampliaram as projeções de retração do PIB para 2015 e 2016.

Consumo fraco das famílias significa menos vendas do varejo e encomendas menores à indústria. É esse ciclo vicioso que explica a brutal queda dos investimentos — somente entre abril e junho, o tombo chegou a 8,1%. Já são oito os trimestres seguidos de contração nos desembolsos das empresas. Os agentes econômicos não investem porque, quando olham para a frente, não veem perspectivas de melhoras. Muito pelo contrário.

Assim, diante da gravidade da crise política, que aprofunda os problemas da economia, preferem manter o dinheiro em caixa do que arcar com prejuízos por causa da fragilidade do consumo. Sem investimentos, não há como se falar em retomada do crescimento.

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