quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sonho de Lula é evitar que petistas façam delação premiada


Já surgiram muitas explicações acerca desta volta de Lula à política, disposto a interferir decisivamente nos rumos do governo, do PT e do Congresso, para ganhar força e tentar influir na Justiça, que é seu objetivo final. Neste quadro confuso, ainda existe quem ache que ele é um líder altruísta, preocupado em preservar o governo, fortalecer o partido e retomar as lutas sociais, mas não é por aí que a banda toca, como se dizia antigamente.

Na verdade, Lula não está interferindo no processo político para defender nenhuma causa específica. Desde que chegou ao poder, em 2003, tem se dedicado a lutar exclusivamente pelos interesses de apenas uma só pessoa, que por coincidência atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva.

Essa conversa fiada de que é preciso dar uma sacudida no partido, para traçar uma linha comum de defesa contra a Lava Jato no campo político-administrativo, na verdade não justifica nada. A operação da Polícia Federal foi deflagrada em março de 2014, a força-tarefa já cantou “Parabéns pra você” e tudo o mais. Então, por que esta súbita mudança de rumos do mais importante político do Hemisfério Sul?

É difícil acreditar, mas já faz tempo que seu grande amigo José Dirceu não tem mais os telefones de Lula, que vive trocando de números, para fornecer os novos apenas a quem interessa. Mas ele realmente desprezou Dirceu, o velho amigo que tanto o ajudara na blindagem do delicado caso Rosemary Noronha, inclusive cuidando pessoalmente da contratação dos escritórios de advocacia e das reuniões para montar a linha de defesa, nas quais Lula entrava mudo e saía calado.

No início do ano, preocupado com os rumos da Lava Jato, Dirceu ligou para Paulo Okamotto, no Instituto Lula, para pedir que marcasse uma reunião com o chefe, destinada a estabelecer uma estratégia de reação às investigações, para preservar o PT, o governo e eles próprios. Contrafeito, no dia seguinte Okamotto teve de responder a Dirceu que Lula não o receberia.

Por coincidência, o criador do PT agora ressurge na política nacional, empunhando exatamente a bandeira que Dirceu lhe oferecera. E isso acontece três semanas após um desabafo do ex-ministro e ex-companheiro, que mandou vazar declarações de que “eu, Lula e Dilma estamos no mesmo saco”.

O que mudou, de lá para cá, a ponto de fazer Lula botar o bloco na rua? É que as investigações estão chegando cada vez mais perto dos verdadeiros chefes da quadrilha (ou quadrilhas), mediante as novas delações premiadas, cada vez mais comprometedoras em relação aos astros e estrelas do PT e do governo. Agora, chega-se ao líder do governo Lula, Candido Vaccarezza, aos ex-ministros Dirceu e Antonio Palocci, aos dois ex-tesoureiros João Vaccari e Edinho Silva, ao ministro Aloizio Mercadante e ao deputado José de Filippi Jr., que foi tesoureiro da campanha de reeleição do então presidente Lula em 2006, depois do escândalo do mensalão, e da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010.4

Em sua ignorância jurídica, que compensa com uma extraordinária intuição política, Lula pensa (?!) que estará a salvo enquanto não houver delação premiada dos petistas já na prisão, como João Vaccari e o ex-deputado André Vargas. Ou sob ameaça de serem novamente presos, como o próprio José Dirceu e o ex-ministro Antônio Palocci.

Sonhar ainda não é proibido. Mesmo sem delação premiada de petistas, o acúmulo de provas prossegue e tudo indica que o poderoso chefão e sua gerentona também serão envolvidos diretamente nas investigações, para que enfim se faça justiça.

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