Não é a primeira vez que o Brasil passa por momentos extremamente difíceis, no período pós 1964. Já vivemos outras crises, mas, ao contrário da atual, vislumbrou-se uma saída e conseguimos atravessar as tempestades.
Assim foi na transição democrática, onde José Sarney assumiu o governo respaldado pelo sentimento dos brasileiros, por quase todos os partidos e por um Parlamento que tinha credibilidade.
No governo Collor, a crise brava tinha certa similaridade com a atual. Era também de natureza ética, econômica e política. Mas ali surgiram ingredientes positivos para a sua superação. As ruas explodiram em descontentamento e o movimento dos caras-pintadas despertou esperanças e orgulho de ser brasileiro, de onde brotou a certeza de que era possível atravessar a tormenta pelo caminho institucional e constitucional.
O Legislativo entendeu os sentimentos das ruas. Cumpriu seu papel através de uma CPI e do impeachment de Collor. Adotada a saída constitucional, todos os partidos responsáveis respaldaram o governo de Itamar Franco. O país pode voltar, assim, à normalidade.
O particular da tragédia atual é que não há um movimento aglutinador em torno de uma saída. Temos um governo extremamente enfraquecido, a três anos e meio do fim do seu segundo mandato. E uma presidente que marcha aceleradamente para a beira do precipício, cercada de crises e pressões por todos os lados.
Nesse mar tormentoso, são grandes os riscos de Dilma Rousseff ceder às pressões de Lula e do PT para tentar emparedar a operação Lava-jato, leia-se o Judiciário, enquadrar a Polícia Federal e rifar o ajuste fiscal de Joaquim Levy.
Para sobreviver, Dilma pode ter uma recaída populista que só espantará mais ainda os investidores externos e os poucos que restam internamente. Puxada para o centro do furacão da Lava-jato, Dilma tende a assumir o discurso belicoso, o que explica suas palavras desvairadas, nos Estados Unidos.
O estado de nervos à flor da pele vivida pela presidente tem suas explicações. Os tribunais de Contas da União e Superior Eleitoral fazem um movimento de “retificação de rumos” que, na prática, significa o fim do jogo de mentirinha tanto na aprovação das contas eleitorais, como das contas da União.
Vai ficando para trás o tempo da aprovação com ressalvas. Os pareceres dessas duas instâncias podem complicar, seriamente, a vida da presidente. E enfraquece-la ainda mais.
Para onde Dilma olhar, só verá coisas ruins. Os dados econômicos deterioram-se rapidamente. Inflação, desemprego, queda do PIB e da renda dos brasileiros, inadimplência, paralização dos negócios.
Não sabemos, sequer, se já chegamos ao fundo do poço. Provavelmente não.
Qual seria o fórum apropriado para se estabelecer uma saída institucional, a exemplo do que aconteceu nas crises passadas?
O Parlamento, claro. Mas este não está à altura do momento histórico. A Câmara dos Deputados, que o diga. Vem operando na contramão ao aprovar medidas populistas sem sustentabilidade, que comprometem a saúde do sistema previdenciário. Registre-se, por uma questão de justiça, que isto tem acontecido com uma mãozinha da oposição, incluindo os tucanos, com raras e honrosas exceções.
Como se fosse pouco, a Câmara adota uma postura jihadista e uma pauta absolutamente extemporânea. E seu presidente resolve tirar da cachola a proposta de parlamentarismo, numa evidente manobra diversionista.
A equação governo cambaleante, errático-Parlamento oportunista, populista e autoritário é o que há de mais particular na crise atual.
Sem quebrar e superar esse binômio continuaremos mergulhados no pântano.
Os brasileiros não merecem isso.
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