Assim que terminou a Copa do Mundo no Brasil, anunciei que tiraria férias em 2018 para ir à Rússia. O plano seria acompanhar os jogos mais interessantes e aproveitar para conhecer o país. Com sorte veria a seleção brasileira, mas não era o mais importante. O que eu queria era aproveitar o Mundial de futebol da forma como não consegui em 2014 porque não me preparei.
Me diverti como pude. Pra mim e para muita gente a Copa se revelou muito mais que futebol. Ficamos encantados. Com a atmosfera saudável em toda a competição, com a alegria das pessoas, com a confraternização nas ruas e estádios, com os jogos espetaculares. Quanto gol, meu Deus!
Nos embriagamos na festa. Esquecemos repentinamente de tudo que havia sido apontado de irregular. E aí veio a ressaca. Gasto público sem precedentes num Mundial, estádios erguidos em locais sem tradição, obras inacabadas. O Galeão ainda parece uma rodoviária.
O Mané Garrincha, que custou R$ 1,4 bilhão, segundo o Tribunal de Contas da União, só não vive às moscas porque é parcialmente usado para abrigar secretarias do governo do DF. Uma economia de R$ 11 milhões mensais aos cofres estatais. Não é preciso ser matemático para ver que a conta não fecha. Do lado de fora, serve de estacionamento para ônibus.
E, então, bem antes da ressaca passar, veio uma enorme dor de cabeça. Temos sido cúmplices das falcatruas da Fifa e da CBF, expostas agora nesse escândalo monumental. A cada partida a que assistimos ao vivo ou pela TV contribuímos para que o jogo continue assim: sujo.
Fala-se em corrupção, de compra de votos para sediar Copas, de resultados de jogos desde a Copa de 1998, na França. A cada dia surgem mais informações e uma montoeira de especulações. Teorias conspiratórias começam a ganhar espaço novamente. O Brasil vendeu ou não a Copa para a França em 1998?
No fundo todo mundo sabia que tinha maracutaia, mas agora que a maracutaia está sendo exposta quem acredita que não haja muito mais sujeira debaixo do tapete?
Acho incrível que essa lama não tenha respingado na Copa no Brasil. Fala-se de África do Sul, Rússia e Qatar e nada sobre a Copa no país que está em 69º no lugar no ranking de corrupção da Transparency International, índice global de percepção de corrupção que avalia 176 países.
Estamos ao lado da África do Sul, que ocupa a 67º posição, mas melhores que a Rússia, em 136º lugar. Isso só não diz mais sobre o Brasil do que as confissões de J. Hawilla.
E o mais importante nessa história toda. O ex-presidente da CBF está preso. Preso. Preso por patifarias cometidas envolvendo milhões em propina. Quem acredita que apenas e só apenas na Copa do Brasil José Maria Marin e seus asseclas não tenham enchido o bolso com muitos e muitos milhões do absurdo que foi gasto para se fazer a Copa? Eu não.
Me pego pensando na Rússia. Seria legal conhecer o Qatar. Vou compactuar com a bandalheira? No fim das contas, não só o dinheiro corrompe. A gente se vende por um pouco de diversão, bagunça e alegria. No fim das contas, somos todos corruptos. A diferença entre nós e os velhacos da Fifa e da CBF é o preço. Eles se vendem por dinheiro e nós pelo circo.
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