terça-feira, 2 de junho de 2015

Quinze anos de bônus demográfico vão pelo ralo

Fraqueza do mercado de trabalho, baixa taxa de poupança e produtividade estagnada podem encerrar o fenômeno que conduziu o crescimento econômico do país nas últimas décadas
Desde a década de 1970, o Brasil tem colhido frutos do chamado bônus demográfico, fenômeno que ocorre quando há, proporcionalmente, um maior número de pessoas em idade ativa, aptas a trabalhar, do que crianças e idosos. Quando esse benefício atinge uma sociedade em desenvolvimento, significa que ela disporá de mais força de trabalho do que pessoas inativas, que, em diferentes graus, são mais dependentes do Estado, como é o caso dos aposentados. Ou seja, há um excedente de pessoas para produzir e pagar impostos. Trata-se de um evento típico de países jovens. E, como tudo na vida, tem data para terminar. Uma vez que essa população envelhece, as novas gerações tendem a ser menos numerosas e a base da pirâmide demográfica se afunila cada vez mais. É o que acontece na Europa, cuja população idosa supera, em alguns países, os jovens em idade ativa. No Brasil, as previsões apontavam 2030 como a década em que os efeitos do bônus começariam a se dissipar. Contudo, devido justamente ao mau aproveitamento dessa vantagem demográfica, especialistas começam a projetar o início de seu fim para já: entre 2015 e 2020.


Segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil não fez bom uso de seu bônus porque não investiu suficientemente em educação de ponta e inovação, a exemplo de países como China e Coreia do Sul. Soma-se a esse déficit as sucessivas crises econômicas que se abateram sobre o país nas últimas três décadas e tem-se o cenário perfeito para o desperdício da vantagem. "Surfar nesse fenômeno significa aproveitar a população ativa e torná-la cada vez mais produtiva. Hoje, temos 10 milhões de jovens que não estudam, nem trabalham: os 'nem-nem'. Isso é potencial desperdiçado. Esse seria o momento de melhorar as condições de vida da população, enriquecer antes de envelhecer. O que está acontecendo é que o país está envelhecendo sem enriquecer, sem conseguir equacionar os problemas básicos da população", afirma. Segundo Alves, a crise econômica atual encerra com chave de ouro um ciclo de mau uso do bônus. "O que vemos hoje na economia é resultado de decisões erradas e falta de investimento. O que foi feito na última década corroeu pelo menos quinze anos de bônus demográfico", diz.
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