“Ô muié/Traga a panela/Pr'eu bater no fundo delaFoi tiro e queda, do jeito que se diz lá no meu sertão, à beira do Rio São Francisco: Lembrei logo da letra do samba do saudoso e visionário filho de Luiz Gonzaga, quando o pernambucano líder maior e fundador do Partido dos Trabalhadores, Luis Inácio Lula da Silva - ex-presidente da República e campeão de antigas pesquisas de popularidade - pronunciou as primeiras palavras no programa político de seu partido no rádio e na TV, e o protesto começou.
Com o cabo da cuié/Pois senão não tem feijão
Ora vamo fazer um arrasta-pé /(Não é?)
Eu já vivi muito tempo/ E vou viver muito mais
Já vi coisa nessa vida/De fazer cair pra trás
O mandado é quem faz tudo/O mandador é quem desfaz
O mandado não tem nada/ O mandador tem é demais (qual é)”(Versos do samba “Pá-nela”, composição de Gonzaguinha, sucesso na interpretação de Roberto Ribeiro)
As panelas e as buzinas começaram a zoar como jamais se havia escutado e visto antes em Salvador - propagandeado "paraíso petista" implantado há anos à beira da Baia de Todos os Santos. Impressionante. Mesmo tendo vivido e presenciado tantas voltas e reviravoltas da vida e da política do País, era difícil acreditar no que estava acontecendo na terceira maior capital do Brasil, na noite de terça-feira, 5 , para não esquecer. "O lugar onde devo ter nascido em outra encarnação", segundo o próprio Lula. Tirada espiritualista de palanque em comício eleitoral no Farol da Barra, tempo não muito distante, quando Antonio Carlos Magalhães era ainda quem mandava na Bahia.
Nos 10 minutos do panelaço desta semana, a capital que sediará, com pompas e circunstâncias já anunciadas, no mês de junho, o congresso nacional do partido no poder com Dilma Rousseff (a presidente que se esconde até das comemorações dos 70 anos da vitória das forças aliadas contra o nazismo na II Guerra Mundial), virou de pernas para o ar. O "santuário" político e eleitoral de Lula, herdado por Dilma nas duas últimas disputas presidências, parecia outra vez tomada pelo espírito indomável que deu a Salvador, a fama histórica de "cidadela de oposição".
Em segundos, a silenciosa rua em que moro no bairro de classe média do Itaigara (e imediações), onde é possível ouvir um inseto voando - mesmo nos dias de maior zoada do furdunço do carnaval baiano – foi tomada por um barulho ensurdecedor. Taque, Taque, Taque, nas janelas e sacadas dos prédios. Fon, Fon, Fon, nas ruas e avenidas adjacentes. E na cidade quase inteira, uma incrível sintonia de sinais luminosos tremelicando nas casas e nos edifícios, apesar da contenção dos gastos com energia elétrica, para tentar driblar a escorcha das contas de luz. Até aqui, uma das marcas mais gritantes do conto eleitoral no segundo governo da mandatária petista.
Um espetáculo de indignação política e social de uma cidade estimulante de ver. Mas difícil de acreditar e entender (mesmo para calejados jornalistas e analistas políticos) "na capital mais lulista e dilmista do Brasil", no dizer de boca cheia dos petistas locais.
Ainda mais, quando o intenso e incessante bater de panelas e buzinaço nas ruas, durante todo o tempo do programa na TV, vinham acompanhados de gritos e palavras de ordem impensáveis até bem pouco tempo. Pelo menos antes do processo do Mensalão e da Operação Lava Jato, que começaram a penetrar e expor os intestinos corruptos e corruptores do poder atual no país: "Fora PT", "Fora Dilma", "Fora Lula". "Pega Ladrão", "Mentiroso".
Fiquemos por aqui, porque outras palavras de ordem gritadas e gravadas nas principais zonas da capital baiana, além Itaigara (Pituba, Stiep, Rio Vermelho, Barra, Brotas, Centro, Cidade Baixa...) são impróprias para menores. Mas os vídeos foram mostrados depois em noticiários de TV, sites dos jornais, blogs e, principalmente, postados fartamente nas redes sociais.
Mas foi um panelaço do tamanho do Brasil, e o mundo inteiro ficaria sabendo disso quando o fato virou notícia, logo em seguida, no Jornal Nacional, e pegou também a estrada internacional. É verdade, tudo bem!.
Acontece que em Salvador, um protesto desta envergadura contra Lula, o Governo Dilma e o PT, é algo praticamente inédito. E, seguramente, o alto comando estadual petista, a começar pelo governador Rui Costa, vai pensar nisso, antes da magna reunião nacional do PT, marcada para acontecer em breve na cidade.
Por enquanto, segue a caça aos bodes para jogar a culpa pelo fiasco monumental do programa do Partido dos Trabalhadores. Sabe-se, desde a primeira hora, que a ausência de Dilma no programa do PT, foi sugerida por Lula, que virou "âncora" do fracasso, ao lado do presidente nacional do partido, Rui Falcão. Este recebeu gritos de "mentiroso" no panelaço soteropolitano, quando anunciou na TV que os petistas, comprovadamente com culpa no cartório do Lava Jato, serão expulsos do partido.
"Sabe de nada, inocente!", diria o compadre Washington na Bahia.
Diz-se, também, agora aos quatro ventos: por motivos "de contenção de despesas, diante da crise geral", o tradicional responsável pela propaganda nacional do PT (João Santana) foi substituído por Maurício Carvalho: um marqueteiro de Salvador, notório propagandista com pouco senso de realidade e '"ego do tamanho de um bonde'', como dizem os soteropolitanos. O tipo ideal para ser o bode da vez dos que mandam e realmente decidem no PT. A conferir.
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